BRASÍLIA - Desde que o debate em torno do projeto de transposição das águas dos rio São Francisco começou, a maior dúvida era quanto ao nível do rio depois da obra.
Os governadores do Nordeste afetados temiam que houvesse uma grande perda de água, reduzindo o nível do São Francisco em seus estados.
Segundo o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) que o governo está analisando, as águas vão baixar sim, mas apenas um pouco.
Os cálculos apontam para uma captação média de 65 000 litros por segundo, o que significa uma redução de cerca de 3% no trecho do rio após a reserva de Sobradinho, que é onde começam os canais. A vazão atual do rio é de 2,06 milhões de litros por segundo naquele trecho.
Mas o mais grave efeito negativo que pode ser causado pela transposição do rio São Francisco é a alteração da qualidade da água e da vida aquática nas bacias que serão ligadas ao grande rio.
A interligação das bacias hidrográficas reduz a qualidade da água e facilita a entrada de novas espécies, como a piranha e a pirambeba, que se alimentam de outros peixes e se reproduzem facilmente em águas paradas. Estes peixes tendem se multiplicar demais e a reduzir a biodiversidade nos rios.
A mistura destas espécies das bacias do São Francisco com as naturais de outras bacias fará com que muitas se percam, prejudicando inclusive algum estudo científico sobre a evolução das espécies nativas de uma região.
Para enfrentar uma queda na qualidade da água, o estudo sugere um programa de monitoramento e retirada da vegetação aquática. Se o problema persistir, será preciso definir regras de uso dos canais e reservatórios.
Quanto às piranhas, que podem atacar peixes em redes, reduzir significativamente as espécies locais e muitas vezes inviabilizar a pesca em determinadas épocas do ano, o estudo sugere apenas que se construam telas ou filtros no rio São Francisco antes do ponto de captação de água e que se controle a fauna. Ninguém sabe ao certo se tal medida funcionará.
23:57 19/09
Vladimir Netto, repórter iG em Brasília ([email protected])
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