Associação
Pernambucana de Engenheiros Florestais - APEEF
São João
Gualberto
FUNDADOR DA ORDEM
DOS
MONGES BENEDITINOS VALOMBROSIANOS
PROTETOR DOS FLORESTAIS
Resumo do Livro
de Dom Emiliano Lucchesi,
O.S.B.V.
São Paulo , 1956
Apresentação e Agradecimento
Na aproximação do milênio
Gualbertiano, temos a satisfação em conhecer esta
obra-síntese.
Neste pequeno volume traça-se um
rápido esboço da vida do nosso Santo Fundador, conhecido na
mística religiosa como o "HEROI DO PERDÃO" , e no
âmbito humano-ecológico, o precursor em ensinar a importância
ética de amar e conservar o que a Providência Divina cria e
entrega como benefício à humanidade.
Pelo carinho e dedicação,
evidencia-se um discipulado dos que fizeram esta edição em
relação a São João Gualberto, como mestre inspirador na
conservação das florestas, confiadas ao zelo dos Engenheiros
Florestais. Assim também cantara o poeta:
Para cumprir belas empresas
Parte ajuda e o tino tem
parte.
Mas, se o céu não é amigo
Desfaz-se o tino e a
arte."
A nossa gratidão e o desejo que
estas páginas possam tornar mais conhecida a figura de São
João Gualberto, benemérito no ideal da cultura das florestas,
que mereceu ser declarado oficialmente "PADROEIRO DOS
FLORESTAIS", pelo saudoso Papa Pio XII.
Pe. Enrico Angelo
Crippa
Prior
Mosteiro São João
Gualberto
R.Dr. Argemiro Couto
de Barros, 220
Pirituba - São
Paulo - Capital
Cep 05.142-040
FONE: (011) 832 - 13
06
O
nascimento
João Gualberto Visdomini nasceu
em Florença, Itália, por volta do ano 995. Foi o segundo filho
de Gualberto Visdomini e D.Villa. Vindos de famílias nobres e
ricas, eles foram morar no Castelo de Petroio, em Chianti, a 25
quilômetros da cidade, onde se dedicaram à educação dos
filhos.
Há poucos documentos sobre sua
infância e adolescência, porém se sabe que seu pai, senhor
Gualberto, como homem de armas, educou seus filhos para serem
perfeitos Cavaleiros, guerreiros hábeis em armas e batalhas,
prontos a defender a honra e o patrimônio da rica família a
qual pertenciam. Sabe-se também que a senhora Villa como mãe
cristã, educou-os dentro dos ensinamentos da religião.
O
Chamado
Os primeiros relatos sobre
acontecimentos na vida do Santo se dão a partir de uma tragédia
na família. Seu único irmão foi assassinado . Segundo costume
da época - em que os grandes, os poderosos, os ricos, faziam
justiça pelas próprias mãos, aplicando as leis de Talião:
"olho por olho, dente por dente"- João Gualberto
assumiu o compromisso de punir o criminoso e assim vingar a
injúria feita à família.
Para cumprir sua vingança saia
todas as manhãs a procura do seu mortal inimigo .
Na manhã da sexta-feira Santa do
ano de 1028 não foi diferente. Partiu de seu castelo, armado e
acompanhado de seus homens. Eis que, numa curva do caminho para
Florença , encontra o assassino de seu irmão .
Logo esporeia o cavalo,
desembainha a espada, lançando-se sobre o inimigo gritando:
-- Considera-te um homem morto!
O infeliz, vendo-se
impossibilitado de fugir, ou pelo menos de defender-se, lança-se
de joelhos, cruza os braços sobre o peito e implora piedade:
-- Por amor de Cristo, de quem
hoje recordamos a dolorosa paixão, perdoa o meu pecado!
Diante de tal atitude e de tais
palavras, João atira ao solo a espada, apeia do cavalo, abraça
ternamente o inimigo e beija-o com afeto.
A seguir, como se não acreditasse
em si mesmo, olha para as próprias mãos para dar-se conta de
que estão puras de sangue. Então se dirigiram para a Basílica
de São Miniato onde estava terminando os atos de adoração da
sexta-feira Santa da Cruz.
São João Gualberto, tomando pela
mão o que tinha sido seu inimigo, o assassino de seu irmão,
sobe a pequena escadaria, entra na Igreja, ajoelha-se diante do
crucifixo bizantino. E quando, entre lágrimas, está contando a
Cristo a alegria de haver perdoado, todos presentes notam que o
Crucifixo se destaca da parede e se inclina para ele, como sinal
da aprovação divina. Enquanto, com os olhos estáticos
contemplava o Crucifixo que se inclinava para ele, ouviu no
íntimo da alma o apelo: "Vem e segue-me".
Sem demora, dispensa seus
soldados, bate à porta da abadia, pergunta pelo superior e
pede-lhe a caridade de recebe-lo entre seus monges.
O fato miraculoso propaga-se com
rapidez. Logo o pai fica sabendo do acontecimento e que seu filho
havia entrado para a Abadia de São Miniato para tornar-se monge.
O senhor Gualberto enfurece-se, corre para o Mosteiro e, com
gritos e ameaças, força o abade a conduzi-lo imediatamente à
presença do filho.
Ao encontrar o filho, ainda com
suas roupas de cavaleiro, o pai desesperado crê que ainda pode
recuperar o filho , cai de joelhos, chora, roga, pede-lhe que
tenha piedade do pobre pai e da desolada mãe que perderam o seu
primogênito assassinado e que iriam perder agora o filho que
lhes sobrara :
-- Tem piedade de nós, vamos para
casa para consolar a tua mãe ...
Novamente a voz interior fala
então a João Gualberto: "Quem ama seu pai e sua mãe mais
do que a mim, não é digno de mim".
-- Meu pai, não posso.
Ouvindo aquela inesperada
resposta, o velho Cavaleiro de Petroio, invadido por fúria,
levanta-se e grita:
-- Amanhã este mosteiro será um
montão de ruínas! Não se salvará nenhum destes monges!
-- Espera-me aqui, pai . Já
voltarei e entraremos em acordo.
João corre à Igreja, toma uma
roupa de monge, coloca-a sobre o altar; roga a Deus que a
abençoe ; veste-a. Depois, calmo e sereno, apresenta-se ao pai
dizendo :
-- Pai, lembra-te que sob estas
ruínas ficará sepultado teu filho também.
Derrotado, o pai
beija e abraça seu filho pela última vez.
O Novo
Campo de Batalha
Com 33 anos de idade esse nobre
guerreiro escolheu o caminho do serviço , da humildade , da
penitência , do estudo e da oração. Como qualquer homem de
armas do seu tempo , nunca tinha precisado aprender a ler ou
necessitado estudar . Sabia cavalgar, manejar armas, comandar em
guerras e tudo mais que fosse preciso para ser um cavaleiro .
Mas , tendo-se feito monge,
dedicou-se totalmente a nova vida escolhida, usando todo tempo
livre para os estudos. Tanta disciplina, dedicação e esforço
conquistaram a admiração e o respeito dos seus irmãos de ordem
. Prova disto é que em 1035 , tendo morrido o abade , viu-se o
Santo eleito , por unanimidade de votos , para sucede-lo . João
Gualberto já era por todos julgado o melhor, não apenas pela
pureza de sua vida e pela observância da Regra, mas também pela
sabedoria e pelos seus ensinamentos.
No entanto ele recusou a
indicação :
-- Irmãos, agradeço a estima e o
afeto demonstrado, mas não posso aceitar ... Vejam ...embora
tenha 40 anos há apenas 7 estou neste mosteiro. Quem ainda não
aprendeu a obedecer não pode estar, à frente, a mandar ...
E foi irredutível no seu
propósito de renúncia.
Lobos em
pele de ovelha
Aqui cabe uma breve explicação
histórica.
Nos séculos X e XI a Igreja
passava por momentos de provação. Nesta época ocorreu o que os
historiadores eclesiásticos conhecem por Simonia: a
nomeação para cargos dentro da Igreja obtida mediante dinheiro.
Este nome vem da passagem do evangelho onde um homem de nome
Simão Mago, vendo os milagres operados pelos apóstolos,
ofereceu certa quantia à São Pedro para obter a capacidade de
fazer milagres.
São Pedro respondeu, indignado:
--"Que seu dinheiro pereça
contigo, pois ele não pode adquirir os dons dados por
Deus!"
Pela mesma indignação passou
São João Gualberto , pois, após sua renúncia, o cargo de
Abade do mosteiro de S.Miniato foi comprado pelo monge Uberto ,
tesoureiro do mosteiro , que entregou grande soma de dinheiro ao
bispo de Florença , que chamava-se Atto, em troca da nomeação.
Esta indignação precipita um
fato que nos mostra que o antigo cavaleiro aprendeu a usar uma
nova arma, a palavra. E ele usou a serviço da Igreja.
Assim que soube da compra da
nomeação saiu do mosteiro e desceu até Florença. Era dia de
feira, lá São João Gualberto denuncia publicamente a
corrupção dando os nomes do novo Abade e do Bispo local.
Lançado o desafio ele e um
confrade se recusam a voltar ao Mosteiro e iniciam uma marcha .
Foram primeiramente ao Mosteiro de
Camaldoli , onde os monges viviam em oração numa vida
eremitica, afastados da sociedade. Passaram pouco tempo lá e
reiniciaram a viagem a procura de que Deus lhes mostrasse onde os
queria.
A faia
sagrada
Certo dia ao cair da tarde, os
dois monges já exaustos, o tempo se fechava anunciando
tempestade, estavam numa região montanhosa a mais de 1.000m de
altitude.
Escolheram uma árvore, uma faia,
e abrigaram-se embaixo dela.
Durante a noite esta árvore
curvou seus galhos, protegendo-os.
Ao amanhecer ambos estavam secos e
aquecidos. Vendo isto São João Gualberto entendeu:
-- O Nosso Senhor nos quer aqui.
E assim foi. Deste ano em diante a
Faia que indicou a vontade de Deus aos monges foi sempre a
primeira a florir.
Este local era Vallombrosa,
palavra italiana para "Vale de Sombras".
Os
primeiros tempos
Ao se instalarem lá encontraram
pessoas que já moravam nos bosques. Os desvalidos que tinham nas
florestas alguma comida e abrigo e os eremitas que procuravam um
lugar longe da maldade humana. Muitos destes aprenderam
rapidamente a admirar e respeitar a santidade destes monges que,
sem abandonar as orações e leituras, iniciaram a trabalhar na
terra e a construir o Mosteiro. E mais monges vinham de toda
parte para se por às ordens de São João Gualberto.
Mas também havia os bandidos e
ladrões que usavam os bosques como esconderijo. Os salteadores,
vendo como os discípulos de São João Gualberto aumentavam,
começaram a perseguir os monges de todos os modos; injúrias,
agressões, roubos e pancadas.
Orientados pelo Santo, os monges
não se deixaram contaminar pela violência. Com suas orações e
exemplo de vida de alegrias fraternas e paz conseguiram converter
alguns dos perseguidores e expulsar outros, cuja a alma não
suporta a proximidade da paz e harmonia, para bem longe.
Resolvido o problema das pessoas
ruins, surgiram os espíritos ruins. Coisas estranhas começaram
a acontecer. Viam-se pelas florestas figuras medonhas, ouviam-se
vozes horrendas blasfemando. Aos monges assustados João lembrava
as palavras de Santo Agostinho:
--"Não temais, Satanás
é qual cão acorrentado que só pode morder a quem
imprudentemente dele se aproxima; só exerce seu poder sobre os
fracos, os negligentes e os que perderam o temor de Deus."
Os discípulos fortalecidos na fé
permaneceram firmes nas suas vidas de serviço a Deus, sem deixar
nada assustá-los.
Vendo que com o pastor de vigília
nada podia contra as ovelhas, o Satanás resolveu atacar o
próprio João Gualberto.
O Mosteiro de Valombrosa foi
construído na elevação de uma montanha, perto de um
precipício. Certo dia quando o Santo caminhava por um atalho na
beira do despenhadeiro, um monstro horrendo se joga sobre ele
tentando derrubá-lo. Usando a Cruz que trazia sempre consigo,
São João Gualberto lança o demônio no fundo do abismo.
Hoje uma capelinha recorda o local
do acontecimento.
O
Mosteiro de Valombrosa
Assim nasceu a Ordem dos Monges
Beneditinos de Valombrosa.
São Bento ao escrever a Regra da
Ordem propôs-se criar uma escola que chamou de Escola do
Serviço de Deus.
Com esta escola São Bento de
impôs dois fins: formar santos monges e preparar eficientes
auxiliares para a humanidade e a Igreja. Logo o monge Beneditino
deve permanecer um operário de Deus, esteja ele cantando em coro
os louvores do Senhor, ou na cela estudando ou transcrevendo
manuscritos antigos e leis, ou ensinando, ou nos campos
recuperando e cultivando terra, ou, nas montanhas, cuidando de
bosques e florestas, ou nos abrigos alpinos recolhendo viajantes
perdido, ou entre infiéis a quem deve converter à verdadeira
fé.
Seguindo com disciplina e
austeridade estes preceitos São João Gualberto plantou no Vale
de Valombrosa um centro de estudos e aprendizagem respeitado por
todos. A própria Igreja enviava ao mosteiro seus padres e bispos
para aprofundarem seus estudos em Valombrosa.
Pessoas de todos os lugares
traziam seus filhos para estudarem lá. Os jovens e crianças
estudavam, oravam e trabalhavam a terra, replantando os bosques
do Vale e plantando o alimento do mosteiro.
Nos séculos que se seguiram
viveram em Valombrosa Monges virtuosos; floresceram aí
teólogos, filósofos, artistas, literatos, com uma
especialização particular nas línguas orientais, nas
matemáticas, na botânica e em todas essas matérias foram
ótimos mestres também nas universidades.
Tanto que a cidade de Milão
convidou os Valombrosanos a fundar a cátedra de botânica na
célebre universidade de Pavía, ao mesmo tempo que as
universidades de Pádua, de Roma e de Londres se dirigiam a
Valombrosa para conseguir mestres competentes em tais assuntos.
Galileu Galilei foi noviço e
aluno em Valombrosa onde recebeu as primeiras noções do seu
sistema planetário do Abade Orácio Morandi. Mais tarde
tornou-se mestre de Matemática na Abadia Valombrosana de
Passignano.
O
cultivo dos Bosques
São João Gualberto não só se
dedicou ao apostolado religioso e caritativo, mas, inspirando-se
no programa beneditino, resumido no binômio reza e trabalha,
exerceu também fecunda missão social mediante trabalho mais
útil, mais sagrado, dedicando-se com os seus monges à
agricultura e à silvicultura.
Historiadores e biógrafos de São
João Gualberto nos mostram que ele lançou os primeiros germes
para o cultivo racional dos bosques de Valombrosa e apontam os
Valombrosanos como precursores da lei agrária; pois eles
iniciaram a divisão da propriedade, criaram a burguesia rural, e
deram poderoso impulso ao melhoramento das condições sociais do
povo.
Os filhos espirituais de São
João Gualberto para desenvolver o trabalho iniciado por seu
Santo Fundador, tiveram de lutar não somente contra as
dificuldades do terreno, mas vencer preconceitos profundamente
radicado, e interesses egoístas.
Entretanto, confiando em Deus e na
boa causa, venceram todos os obstáculos: as montanhas de
Valombrosa foram coroadas de bosques espessos e ricas florestas.
E, ainda hoje, nos montes que
rodeiam o Mosteiro de Valombrasa, onde São João Gualberto
começou os primeiros trabalhos de silvicultura, contemplam-se
copadas árvores que fazem a admiração dos estrangeiros e
tornam Valombrosa um dos mais deliciosos lugares europeus de
veraneio.
O
Protetor dos Florestais
Por esta razão em 12 de janeiro
de 1952 o Papa Pio XII proclamou São João Gualberto Protetor
dos Florestais.
Seu dia se comemora em 12 de Julho
, pois foi nesse dia do ano de 1073 que, na idade de 78 anos,
São João Gualberto encerrou a sua jornada laboriosa e entregou
multiplicado, ao Pai Celeste, o talento que havia recebido.
Resumo do livro: "São
João Gualberto - Fundador dos Monges Beneditinos
Valombrosanos - Protetor dos Florestais"
Escrito por: Dom Emiliano
Lucchesi - Abade de Valombrosa (Florença - Itália), em
1956, por ocasião da inauguração da estátua de São
João Gualberto, doada pela Ordem dos Beneditinos de
Valombrosa e pela Academia Florestal Italiana à cidade
de São Paulo.
A estátua encontra-se no Horto
Florestal de São Paulo..
Agradecemos
À Equipe da Revista Família
Cristã, pelas informações prestadas;
À Eng.Florestal Brígida Duarte,
pela adaptação e resumo.
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