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POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS
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Número 144 - 22 de janeiro de 2002
Car@s Amig@s,
As entidades coordenadoras da Campanha “Por um Brasil Livre de Transgênicos” divulgaram ontem (21/01) os resultados da pesquisa encomendada ao Ibope sobre a opinião dos brasileiros a respeito dos organismos geneticamente modificados (OGMs), ou transgênicos. Segundo a pesquisa, apenas 37% dos brasileiros já ouviram falar de transgênicos. Entre as pessoas que conhecem OGMs, 71% dizem que, se pudessem escolher, prefeririam consumir alimentos que não os contivessem.
Na região Sul, onde o debate sobre o tema tem sido mais intenso, 75% dos entrevistados dizem que, se pudessem escolher, prefeririam um alimento não transgênico ao alimento que contivesse OGMs.
Para 92% dos brasileiros, os alimentos que eventualmente contenham transgênicos deveriam publicar esta informação no rótulo da embalagem.
Segundo 55%, os alimentos transgênicos não vão acabar com a fome no mundo.
A pesquisa foi realizada entre 7 e 10 de dezembro de 2002 com 2000 entrevistados, com pelo menos 16 anos de idade, em todas as regiões do Brasil, e tem margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.
De acordo com o Ibope, 65% dos entrevistados que disseram conhecer transgênicos acham que o plantio dessas espécies deveria ser proibido porque há divergências na comunidade científica quanto aos riscos que elas representam para a saúde dos consumidores e para o meio ambiente. A pesquisa de opinião pública do Ibope sobre transgênicos foi realizada pela primeira vez em 2001, como os mesmos métodos.
Sessenta por cento dos entrevistados concordam com a opinião de que o Brasil teria dificuldades para exportar produtos transgênicos, diante da rejeição dos consumidores de vários países.
Dentre os que ouviram falar em produtos transgênicos, 58% declaram que já tomaram conhecimento da Campanha “Por um Brasil Livre de Transgênicos”. Essa proporção indica, com clareza, o papel importante da Campanha na difusão deste debate no Brasil.
A íntegra da pesquisa está disponível no site do Idec - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor: www.idec.org.br.
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Neste número:
1. Especialista alerta para o risco de câncer embutido nos alimentos
transgênicos
2. Acordo com a China vai viabilizar as exportações de soja
3. Estrangeiros registram patentes sobre produtos da Amazônia
4. Novas análises de resíduos de agrotóxicos em alimentos
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são
solução para a agricultura
Manejo de Bacia Hidrográfica na Índia
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1. Especialista alerta para o risco de câncer embutido nos alimentos
transgênicos
Alimentar-se com transgênicos pode causar câncer. Este foi o aviso
alarmante divulgado pelos principais oncologistas da Escócia.
O Dr. Stanley Ewen, consultor em histopatologista da Aberdeen Royal Infirmary,
disse que o vírus mosaico da couve-flor utilizado em alimentos transgênicos
pode aumentar os riscos de câncer de cólon e de estômago.
Ele faz um apelo para que a saúde das pessoas que moram próximo
a experimentos com transgênicos em Aberdeenshire, Ross-shire e Fife
seja monitorada. Todo o alimento e a água dessas localidades pode ser
contaminado por materiais transgênicos, diz ele, o que pode acelerar
o desenvolvimento de tumores malignos. “Eu não quero ser promotor
de pânico, eu quero ser compreendido”, disse Ewen para o Sunday
Herald. “Mas eu estou muito preocupado com as pessoas que dependem da
produção local e que podem estar se colocando em perigo”.
(...)
Ewen, que tem 29 anos de experiência como histopatologista, atualmente
coordena um projeto-piloto em Grampian para examinar pessoas com câncer
de cólon. Em 1999, junto com o Dr. Arpard Pusztai, pesquisador do Instituto
de Abeerdeen Rowlett, publicou um estudo levantando o fato de batatas transgênicas
trazerem danos a ratos.
Em nota ao comitê de saúde, Ewen expressou estar muito preocupado
com o que o uso do vírus mosaico da couve-flor pode promover nos alimentos
transgênicos. O vírus foi usado como uma minúscula máquina
para induzir que os genes implantados se expressem.
No entanto, Ewen aponta que o vírus é infeccioso, e pode ser
um “fator de crescimento” no estômago e cólon, estimulando
o desenvolvimento de polipos. (...)
Ewen enfatiza que não se opõe a todas as tecnologias transgênicas.
Acredita que os transgênicos possam trazer benefícios reais,
particularmente na medicina. Mas está suficientemente alarmado com
o uso corrente desta tecnologia para incitar o comitê de saúde
a banir os experimentos com cultivos transgênicos até que sua
segurança seja comprovada em testes com animais.
Médicos da Associação Médica Britânica também
sugerem ao Comitê que os transgênicos sejam banidos por não
se conhecer ao certo seus efeitos na saúde. A pesquisa do Comitê
foi estimulada por uma moção de mais de 6.000 assinaturas colhidas
por manifestantes que fazem vigília num campo de experimento transgênico
em Munlochy em Ross-shire. (...)
Agbioindia, 22/12/02.
2. Acordo com a China vai viabilizar as exportações de soja
A China permitirá a importação de soja do Brasil, depois
de o país sul-americano ter reconhecido que seus embarques podem incluir
uma variedade transgênica, embora a autorização seja para
apenas o cultivo de grãos convencionais.
As exportações brasileiras de soja para a China foram suspensas
em dezembro, por uma nova regulamentação sobre colheitas geneticamente
modificadas, exigindo que o governo do país de origem do produto confirme
a presença de tais organismos e garanta que não são prejudiciais
para seres humanos e para o meio ambiente.
“O Brasil enviou um documento oficial para a China no qual explica a
possível mistura de soja transgênica da Monsanto nos embarques
para a China”, informou a Beijing Orient Agribusiness Consultants, agência
ligada ao Ministério da Agricultura da China.
No ano passado, o Brasil tornou-se o segundo maior fornecedor de soja da China,
atrás dos EUA, com embarques de US$ 870 milhões para o país
asiático, maior mercado mundial de grãos, o que representou
um crescimento de 60%. (...)
Segundo o secretário da embaixada brasileira em Pequim, Carlos Eduardo
Cunha, “O Ministério da Agricultura (da China) ainda não
deu uma resposta formal, mas esperamos uma dentro de uma semana”. Ele
não quis comentar se os documentos brasileiros reconhecem que os embarques
do país podem conter soja geneticamente alterada. (...)
Gazeta Mercantil, 22/02/03.
3. Estrangeiros registram patentes sobre produtos da Amazônia
Produtos naturais originários da Amazônia, utilizados há
séculos por seus povos, como o cupuaçu, a andiroba, a ayahuasca
(Santo Daime) e a copaíba, que poderiam significar grandes fontes de
riquezas para o Acre, são patentes exclusivas de empresas americanas,
japonesas, francesas e inglesas. Somente essas empresas podem utilizar o nome
desses produtos e algumas fórmulas de sua industrialização.
As patentes estão registradas em agências de patentes japonesas,
americanas, francesas, inglesas e da União Européia e a exclusividade
dos direitos de comercialização abrangem desde os limites de
países até toda a Europa e o mundo inteiro. A detenção
das patentes por estrangeiros impede que organizações e empresas
acreanas negociem os produtos no mercado internacional, causando, assim, um
grande prejuízo aos povos do Acre e da Amazônia.
A gravidade da descoberta pode ser ilustrada com o exemplo do caso do cupuaçu.
A empresa japonesa Asahi Foods Co. Ltd., de Kyoto, registrou várias
patentes sobre a extração do óleo da semente do cupuaçu
e a produção do chocolate de cupuaçu. A empresa registrou
ainda o nome "cupuaçu" na União Européia e
Estados Unidos, impedindo assim que na área de abrangência das
patentes seja comercializado qualquer produto de outra empresa que contenha
o nome da fruta. (...)
A denúncia do golpe é da organização não-governamental
(ONG) do Acre, a Amazonlink (www. amazonlink.org). Segundo a advogada da ONG,
as patentes do cupuaçu, da andiroba e da copaíba constituem
biopirataria.
A ONG brasileira descobriu as patentes quando tentava intermediar a exportação
de geléia de cupuaçu para uma empresa alemã. (...)
A advogada Cristiane Derani, professora de direito ambiental e econômico
da faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), disse que
não se pode patentear nomes de uso comum.
Para Michael Schmidlehner, presidente da ONG, se for possível provar
que os produtos e fórmulas foram descobertos e são utilizados
tradicionalmente por povos da Amazônia, os registros de marcas e patentes
poderão ser revistos. "Estamos em contato com organizações
para nos ajudar no estudo para reverter esses registros e sobre qual será
o impacto para os povos da Amazônia caso não se consiga reverter".
A Gazeta, 27/12/02.
Jornal do Commercio, 10/01/03.
4. Novas análises de resíduos de agrotóxicos em alimentos
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) inicia,
em fevereiro, nova etapa do Programa Nacional de Análise de Resíduos
de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), com a coleta de amostras de produtos
nas capitais de cinco estados, Rio Grande do Sul, Pará, Mato Grosso
do Sul, Espírito Santo e Rio de Janeiro. O programa, já com
um ano e meio de vida, pretende estabelecer, pela primeira vez no Brasil,
o monitoramento sistemático de resíduos de agrotóxicos
em alimentos, para garantir maior segurança e qualidade alimentares
aos consumidores.
Na primeira fase, o PARA realizou coletas nos estados de São Paulo,
Paraná, Minas Gerais e Pernambuco e analisou 1.295 amostras de alface,
banana, batata, cenoura, laranja, maçã, mamão, morango
e tomate recolhidos em supermercados das capitais.
O relatório, recém divulgado pelos técnicos do programa,
contém informações preocupantes: 81,2% das amostras (1.051)
continham resíduos de agrotóxicos. Desse total, 233 ou 22,17%
apresentaram irregularidades porque os percentuais de resíduos ultrapassavam
os limites máximos permitidos pela legislação. No caso
do morango, 50% das amostras estavam contaminadas. E, o mais grave, entre
as 233 amostras irregulares 74 continham resíduos de agrotóxicos
de uso não autorizado para aquelas culturas, devido ao alto grau de
toxidade -- como o Dicofol e os Ditiocarbamatos.
“Com o nível e o volume da nossa agricultura é preciso
criar uma estrutura operacional, um sistema de monitoramento e padrões
de medidas para proteger a saúde da população e servir
de referência para a atuação de outros agentes da sociedade”,
diz Luiz Cláudio Meirelles, gerente-geral de toxicologia da Anvisa.
E lembra que, nas últimas décadas, a elevação
dos níveis de exposição de produtores rurais e consumidores
aos agrotóxicos tornou-se um dos principais alvos de preocupação
com a saúde humana em diversas partes do mundo. (...)
Gazeta Mercantil, 16/01/03.
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não
são solução para a agricultura
Manejo de Bacia Hidrográfica na Índia
A vila de Pimpalgaon Wagha fica numa região pedregosa e seca da Índia,
não indicada para a agricultura. De qualquer maneira, este era o ambiente
que os aldeões locais tinham para cultivar. Um estudo de 1988 revelou
que devido às secas recorrentes e às péssimas condições
econômicas, a maioria da população passava fome e estava
propensa a inúmeras doenças. As pessoas migravam para áreas
urbanas ou trabalhavam como assalariadas para grandes produtores. Na vila
não havia água potável nem lenha, e era preciso andar
milhas de distância para encontrá-las. Essas tarefas eram destinadas
às mulheres jovens, que assim ficavam privadas de educação.
Em 1989, uma ONG chamada Social Centre, introduziu o manejo de bacia hidrográfica
na região. Foi necessária uma completa mudança de hábitos.
Os aldeões foram treinados para conduzir todo o processo, desde o planejamento,
supervisão e execução das ações. Assim,
se sentiram responsáveis pelo sucesso do projeto.
Foram construídas trincheiras, curvas de nível, canais, barragens,
tanques de percolação e foi proibido o pastoreio livre dos animais.
(...)
As medidas de conservação da água e do solo aumentaram
os níveis dos poços da vila e a água passou a ficar disponível
cerca de 11 meses por ano. Antes do desenvolvimento do projeto, somente parte
dos poços existentes na comunidade tinha água e, mesmo assim,
por 8 meses. Como resultado, os produtores podem agora irrigar seus campos
e a produtividade agrícola aumentou cerca de 50%. A horticultura foi
introduzida na região em terras abandonadas e privadas, aumentando
a área cultivada em mais 33 hectares.
Mais crianças puderam ir a escola, e hoje 80% das pessoas são
alfabetizadas.(...) Água potável ficou disponível dentro
da vila e as mulheres não tiveram mais que andar quilômetros
para se abastecer de água, podendo contribuir positivamente para o
desenvolvimento da vila. (...)
Surgiram maiores oportunidades de emprego, a migração para áreas
urbanas e o trabalho assalariado diminuíram. Na realidade, algumas
famílias que tinha migrado até voltaram para a localidade.
Ao contrário do que acontecia na seca, houve 80% de sobrevivência
das plantas semeadas. A erosão do solo foi freada consideravelmente
e as pastagens crescem acompanhando o caminho das águas. Os ribeirões
que corriam só até novembro agora correm até janeiro,
mesmo em anos secos, garantindo água potável disponível
mesmo nos anos de seca.
Hoje, Pimpalgaon Wagha é um modelo de desenvolvimento para as vilas
próximas.
Crispino Lobo. The story of Pimpalgaon Wagha. In Ileia Newsletter, dezembro
de 1995, vol. 11, no. 4, p. 15.
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A Campanha "Por um Brasil livre de transgênicos" é composta pelas seguintes Organizações Não Governamentais (ONGs): AS-PTA, ACTIONAID BRASIL, ESPLAR, IDEC, INESC, GREENPEACE, CE-IPÊ, e FASE.
Este Boletim é produzido pela AS-PTA - Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa [Tel.: (21) 2253-8317 / E-mail: [email protected]]
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