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POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS
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Número 387 - 07 de abril de 2008

Car@s Amig@s,

O grupo Cymru Livre de Transgênicos (Cymru é como se chama o País de Gales em galês) divulgou recentemente um comunicado à imprensa revelando as falhas contidas em um estudo italiano em que ovelhas foram alimentadas com o milho transgênico Bt176 da Syngenta, visando avaliar a segurança do produto para o consumo -- um verdadeiro caso de fraude científica.

O caso merece ser relatado pois ilustra como são conduzidos os estudos que levam à aprovação dos produtos transgênicos, e aos quais órgãos como a nossa CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) se agarram para alegar que a segurança destes produtos para a saúde e o meio ambiente “está mais do que provada”.

A pesquisa italiana parece ter sido especificamente desenhada e conduzida para confirmar a hipótese da ausência de riscos. Entre 2002 e 2005, cientistas da Universidade de Perugia financiados pelo Ministério da Saúde da Itália conduziram um estudo envolvendo 106 ovelhas em fase de reprodução, das quais um grupo foi alimentado com uma dieta contendo o milho Bt176. No artigo científico que divulgou os resultados faltam informações cruciais.

O preâmbulo do artigo diz que “faltam estudos de longo prazo conduzidos com um alto número de animais durante várias gerações com o objetivo de avaliar os efeitos de alimentos transgênicos na criação de animais”, indicando que o estudo cobriria esta lacuna. Mas ele não o faz. Curiosamente, embora o estudo tenha durado o período de três gerações, apenas uma geração de ovelhas foi alimentada com o milho transgênico, e aos seus filhotes não foi dada qualquer quantidade de milho transgênico. O tamanho real do grupo testado não é informado em nenhum lugar do relatório.

Outro dado curioso, é que a quantidade de milho transgênico dada ao grupo de ovelhas testado foi muito pequena, representando apenas 5,6% de sua dieta, exceto durante o período de lactação, em que a proporção foi aumentada para 19,4%.

Os pesquisadores encontraram diferenças importantes em 4 dos 30 parâmetros de sangue investigados e em alguns itens as diferenças estavam muito próximas de significância estatística. Ainda assim, estes resultados foram efetivamente desconsiderados ou desmentidos. Também as diferenças histológicas encontradas entre o grupo controle e o grupo de ovelhas testadas foram classificadas como “preliminares”, fazendo parecer que os cientistas não tiveram permissão para conduzir estudos detalhados sobre as amostras dos tecidos.

Além de todos estes problemas, identifica-se uma série de falhas na escolha dos métodos de análises laboratoriais escolhidos, na interpretação dos resultados e falta de detalhes na avaliação das causas das mudanças funcionais e celulares encontradas.

Em sua investigação sobre estes resultados, o Cymru Livre de Transgênicos descobriu que os primeiros avaliadores do relatório na revista científica Livestock Science, que publicou o artigo, expressaram preocupação acerca destas mudanças fisiológicas e indicaram que elas deveriam ser investigadas e elucidadas, mas a revista resolveu publicar o estudo assim mesmo.

Segundo o Dr. Brian John, renomado cientista e membro do Cymru Livre de Transgênicos, em 2004, sob forte pressão da Syngenta acerca das mudanças celulares descobertas no estudo, foi tomada a decisão de se abandonar a pesquisa e de se impedir que fosse publicada. Era uma época muito sensível para a Syngenta, logo após a revelação de que vacas que haviam morrido na Alemanha haviam sido alimentadas como milho Bt176. Posteriormente tomou-se a decisão de relatar os resultados da pesquisa e de submetê-los à publicação, possivelmente porque a Syngenta já havia desistido de colocar o Bt176 no mercado.

Mas, conforme observa o Dr. John, desde o começo este estudo, assim como a maioria dos estudos deste tipo, foi desenhado para provar a equivalência nutricional entre o milho transgênico e o não-transgênico, e para demonstrar que a saúde e a performance dos animais não seria negativamente afetada pelo consumo do milho transgênico. Ele tem todos os sinais de um estudo cuidadosamente fabricado para a promoção de uma conclusão aceitável para a Syngenta. Os resultados do estudo foram efetivamente predeterminados quando o componente transgênico na alimentação das ovelhas foi estabelecido em quantidade absurdamente pequena. Além disso, apenas um pequeno grupo de ovelhas em fase de reprodução foi alimentada com a dieta de teste, quando houve a oportunidade de se estudar três gerações. E uma demanda por estudos mais detalhados foi negada quando a evidência de proliferação ativa de células basais foi descoberta.

Este estudo, tendencioso desde o início para uma conclusão de ausência de riscos, é mais um exemplo da influência pérfida das corporações de biotecnologia sobre o trabalho honesto de pesquisa de cientistas em instituições acadêmicas.

O único consolo que se pode tirar deste caso particular é que as evidências deste estudo sobre os danos ao pâncreas, fígado e epitélio ruminal de ovelhas alimentadas com milho transgênico pode ter ajudado a convencer a Syngenta de que o milho Bt176 era uma variedade instável e fundamentalmente perigosa, apressando seu fim.

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Maiores informações em:

Bt176 sheep feeding study -- another case of scientific fraud?
Press Notice from GM Free Cymru, 10th March 2008
http://www.gmfreecymru.org/news/Press_Notice10Mar2008.html

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Neste número:

1. Convenção da Biodiversidade: nada de acordo sobre responsabilidade envolvendo transgênicos
2. Romênia bane milho transgênico da Monsanto por falta de segurança
3. Transgênicos aumentaram mais o uso de agrotóxicos do que produtividade
4. Cientistas suecos descobrem que semente transgênica tem vida longa
5. Monsanto anuncia compra da holandesa De Ruiter Seeds

Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura

Professora incentivando agroecologia no semi-árido

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1. Convenção da Biodiversidade: nada de acordo sobre responsabilidade envolvendo transgênicos
Terminou em 22 de fevereiro, em Cartagena, na Colômbia, o último encontro preparatório à COP-9, a nona Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica, e à MOP-4, o quarto Encontro das Partes do Protocolo de Biossegurança (também conhecido como Protocolo de Cartagena), que acontecerão na Alemanha em maio próximo. Esta foi a reunião do Órgão de Assessoramento Tecnológico e Científico - SBSTTA da Convenção que menos teve consenso na história, somando 36 pontos de divergência.

Segundo o Protocolo de Biossegurança, um regime internacional sobre responsabilidade e reparação de danos relacionado aos perigos do transporte transfronteiriço de transgênicos deveria ser concluído até 2008. O Grupo de Trabalho que discutia este tema não conseguiu chegar a um acordo. Devido ao fracasso das negociações na Colômbia, agendou-se para os quatro dias anteriores à MOP-4, na Alemanha, uma nova reunião envolvendo representantes da África, do GRULAC (Grupo de Países da América Latina e Caribe), da região Ásia-Pacífico, da União Européia, da Europa do Leste, da Nova Zelândia, da Noruega, da Suíça e do Japão. O resultado deste encontro será apresentado ao MOP-4, que deverá então decidir o teor final do acordo.

No Grupo de Trabalho sobre Diversidade Biológica Florestal, o tema das árvores transgênicas foi um dos mais polêmicos. Alguns países propuseram que a Recomendação do SBSTTA deveria mencionar a necessidade de realizar pesquisas de campo com árvores transgênicas como uma das formas de “conhecer seus impactos”. Outros países defenderam que o SBSTTA se restringisse a recomendar uma “postura de precaução”, enquanto outros ainda sugeriram uma moratória à utilização de árvores transgênicas até que protocolos de análise de risco sejam criados.

O Brasil elaborou e defendeu a opção segundo a qual, “reitera-se a necessidade de aplicar o enfoque da precaução, em conformidade com o princípio 15 da Declaração do Rio, ao uso de árvores geneticamente modificadas.”

A Posição da Sociedade Civil sobre Elementos Fundamentais do Regime de Responsabilidade por danos ocasionados por Organismos Vivos Modificados está disponível em:
http://www.terradedireitos.org.br/2008/03/25/carta-de-noticias-nº-05-3documentos-sobre-a-posicao-da-sociedade-civil/

Com informações de:

- Carta de Notícias nº 05  Convenção da Biodiversidade e Protocolo de Cartagena -- Terra de Direitos, 26/03/2008.
www.terradedireitos.org.br

- Third World Network Biosafety Information Service, 01/04/2008.
www.biosafety-info.net

2. Romênia bane milho transgênico da Monsanto por falta de segurança
O governo romeno anunciou na última semana que vai banir do país o milho geneticamente modificado MON 810 da Monsanto, o único cultivo transgênico comercial permitido na Europa. Essa variedade é a mesma que foi aprovada em 2007 para plantio comercial no Brasil pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

A Romênia é o principal produtor de milho da União Européia em total de hectares plantados, com cerca de 3 milhões de hectares cultivados anualmente. Do milho MON 810 foram plantados 300 hectares no país desde 2007, representando apenas 0,01% do total de produção de milho da Romênia. A Romênia é o oitavo país da Europa a banir o cultivo de variedades transgênicas, seguindo os passos da França, Hungria, Itália, Áustria, Grécia, Suíça e Polônia.

Preocupações sobre a segurança do milho MON 810 levaram o governo romeno a agir. Estudos científicos mostram que o milho MON 810 provoca danos à fauna, solo e saúde humana. Sua toxina embutida, programada para matar uma de suas pragas, provoca danos a minhocas, borboletas e aranhas. Provas de sua segurança para a saúde humana e animal são inconclusivas.

Fonte:
Nota à imprensa do Greenpeace Brasil, 27/03/2008.

3. Transgênicos aumentaram mais o uso de agrotóxicos do que produtividade
Ao contrário do que prometeram as empresas de biotecnologia, ao invés de reduzirem o uso de agrotóxicos nas lavouras, os transgênicos, “no total, provocaram um aumento no uso de químicos”. É o que demonstra o novo relatório da ONG internacional Friends of the Earth.

O relatório intitulado “O aumento no uso de pesticidas” revela que dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, em inglês) mostram um aumento de 15 vezes no uso do herbicida glifosato entre 1994 e 2005 (glifosato é o princípio ativo do herbicida Roundup, da Monsanto, usado nas lavouras Roundup Ready, tolerantes à sua aplicação).

O uso do herbicida 2,4-D em soja transgênica “mais que dobrou” entre 2002 e 2006, e aplicações de atrazine (um herbicida banido na Europa) nos EUA aumentaram em 12% entre 2002 e 2005. Além disso, a soja transgênica Roundup Ready não demonstrou “uma produtividade mais alta do que a soja convencional”. Muitos estudos mostraram “uma média de produtividade 5 a 10% menor”.

Fonte:
Weekly News Update on Pesticides, Health and Alternatives - PANNA: Pesticide Action Network North América, 20/03/2008.
http://www.panna.org/resources/panups/panup_20080320

N.E.: Os herbicidas 2,4-D e atrazine são produtos antigos e muito mais tóxicos do que o glifosato. Seu uso já havia sido praticamente abandonado, mas os agricultores estão agora recorrendo a estes venenos pois não encontram outra maneira de eliminar das lavouras o mato que está desenvolvendo resistência ao glifosato. Ou seja, o retorno aos agrotóxicos antigos e super-tóxicos é um efeito direto das lavouras transgênicas Roundup Ready.

4. Cientistas suecos descobrem que semente transgênica tem vida longa
Cientistas suecos descobriram que sementes de algumas culturas geneticamente modificadas conseguem durar pelo menos dez anos no solo. A descoberta, noticiada pelo site da rede britânica BBC, deve aumentar as críticas de grupos contrários à transgenia, para os quais essas sementes não podem ser contidas uma vez plantadas. Isso provocaria “contaminações” em variedades convencionais ou orgânicas.

Os cientistas examinaram um campo experimental com canola transgênica resistente a herbicidas desenvolvido há uma década. O experimento foi interrompido, e funcionários do Conselho Sueco de Agricultura realizaram aplicações intensivas de químicos que deveriam ter erradicado as sementes. Mesmo assim, os cientistas localizaram 15 plantas com os genes modificados.

"Ficamos muito surpresos", disse à BBC Tina D’Hertefeldt, que liderou a equipe de cientistas da Lund University que realizou o plantio experimental há uma década. Os cientistas, no entanto, são cautelosos em afirmar que as plantas transgênicas, por terem sobrevivido, são mais resistentes que as convencionais. A canola é a quarta maior cultura transgênica do mundo, depois da soja, milho e do algodão.

Fonte:
Valor Econômico, 03/04/2008.

5. Monsanto anuncia compra da holandesa De Ruiter Seeds
O grupo Monsanto anunciou nesta segunda-feira um acordo para adquirir a produtora holandesa de sementes de legumes De Ruiter Seeds por 546 milhões de euros, cerca de US$ 800 milhões, excluídas as dívidas.

Esta compra deve aumentar o lucro por ação da Monsanto, assim como seu fluxo de caixa e seu volume de negócios no segundo ano depois da aquisição.

A Monsanto indicou que, com esta aquisição, espera elevar o volume de negócios da Seminis, sua divisão de sementes, para US$ 1 bilhão até 2012.

Fonte:
Folha Online, 31/03/2008.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u387512.shtml

Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura

Professora incentivando agroecologia no semi-árido

Izabel de Jesus Oliveira é professora e mora na Agrovila Nova Esperança, uma comunidade em Ouricuri - PE, habitada por cerca de quarenta famílias. Bel, como é conhecida, trabalha como difusora da proposta de Educação Agroecológica na Escola Rural de Ouricuri (ERO), e atualmente seu trabalho de difusão ocorre justamente na comunidade onde mora.

A partir da realidade da Agrovila e baseada em problemas como desmatamento, caça predatória, destinação não adequada do lixo, poluição da água, uso de agrotóxicos, extrativismo sem controle, compactação dos solos e monocultura, Bel inicia o trabalho de educação agroecológica na escola local. As atividades são construídas a partir de blocos temáticos: agroecologia, saúde, humanismo, organização comunitária, cultura e comunicação.

A comunidade se organiza agora em ações de desenvolvimento através do trabalho com grupo de mulheres (beneficiamento, multimistura e artesanato), jovens (apoio às atividades escolares e animação das festividades religiosas) e idosos (resgate da auto-estima e lazer), gerando renda e promovendo a agroecologia.

Fonte:
Agroecologia em Rede
http://www.agroecologiaemrede.org.br/experiencias.php?experiencia=544

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Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos

Este Boletim é produzido pela AS-PTA Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa e é de livre reprodução e circulação, desde que citada a AS-PTA como fonte.

Para acessar os números anteriores do Boletim, clique em: http://www.aspta.org.br.

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