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Transgênicos - Organismos Geneticamente Modificado

ONG propõe reduzir plantio de soja

Divergências internas no governo atrasam liberação de transgênicos

EUA propõem safra de soja menor no Brasil


 
 

Mauro Zanatta, De Brasília

  Ken Goudy veio ao Brasil oferecer a produtores de soja que recebam para não plantar. Isso melhoraria a renda nos EUA.
Uma ONG que reúne produtores americanos e canadenses deu ontem mais munição aos produtores brasileiros de soja para abrir um "panel" (comitê de arbitragem) na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os subsídios ao grão plantado nos Estados Unidos.
A Focus on Sabbatical revelou, em reunião na Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que o custo de produção da soja do EUA é ainda maior do que se estimava. Segundo estudo comparativo do professor Phillip Baumel, da Universidade do Estado de Iowa, cada bushel (27,4 kg) colhido nos EUA custa US$ 5,79 aos produtores. Como o subsídio do governo americano (preço mínimo) está fixado em US$ 5,26 por bushel, os produtores dos EUA não têm renda suficiente nem mesmo para cobrir os custos de produção. Os preços estão próximos a US$ 4,335 por bushel.
 
"Esse estudo, feito por eles, prova que nossa tese está correta. Sem subsídios, não haveria produção de soja lá há muito tempo", afirma o chefe do Departamento Econômico da CNA, Vicente Nogueira Neto. Para o Brasil, o professor Baumel calculou um custo de produção de US$ 3,42 por bushel.

Numa tentativa de elevar os preços internacionais e aumentar a renda dos produtores na América do Norte, a ONG americana apresentou ontem à CNA um plano para cortar em 10% a produção mundial dos principais grãos e cereais nos EUA, Canadá, Brasil, Argentina e Austrália. Pela proposta, seriam cortadas 29,3 milhões de toneladas de milho, soja e trigo em 61,1 milhões de hectares. "Temos sido competidores. Agora, geraremos confiança mútua", disse Ken Goudy, da Focus.

As grandes tradings do setor também seriam convidadas a reduzir seus estoques excedentes de 80 para 40 dias. Em um ano, diz, os preços poderiam chegar a US$ 6 por bushel e ficariam neste nível por outros dois anos.

A ONG, que representa 3,5 mil associados canadenses e 500 americanos, sugeriu o pagamento de uma indenização de US$ 165 por hectare aos produtores brasileiros que deixarem de plantar soja no país. Para garantir a remuneração, seria criado um fundo de investimento que gerenciaria estoques e pagamentos. Em Iowa, a contribuição ficaria em torno de US$ 30 por acre. Os produtores brasileiros não precisariam contribuir.

A ONG negou qualquer relação entre sua proposta e a ação brasileira na OMC. "O programa não é uma reação ao 'panel', mas aos baixos preços e por uma compensação aos nossos altos custos de produção", disse Joe Whitney, presidente da Focus on Sabbatical.

A CNA apontou várias fragilidades do programa. Primeiro, poderia haver crescimento de outras culturas oleaginosas, como palma e colza. Depois, poderia abrir espaço a produtores não-tradicionais como Bolívia e Paraguai. "Precisamos consultar a American Farmers Bureau, que tem representatividade para falar pelos produtores dos EUA", disse Vicente Nogueira.


Empresas & Tecnologia /Agronegócios - Produção

Valor Econômico, Quarta-feira, 30 de janeiro de 2002


Divergências internas no governo atrasam liberação de transgênicos

Ministérios não se entendem sobre como regulamentar o plantio e consumo dos OGMs

ARIOSTO TEIXEIRA

BRASÍLIA - O governo tem pressa na definição de regras para liberar a produção e a comercialização de organismos geneticamente modificados (OGMs), ou transgênicos, no País, mas não tem controle sobre quando isso poderá ser feito. Além de superar obstáculos promovidos por ações judiciais já decididas em primeira instância, o Palácio do Planalto enfrenta divergências entre ministérios e outros órgãos do governo.

A principal delas se refere à necessidade de licenciamento ambiental para a produção de OGMs, independentemente da posição da Comissão Nacional de Biossegurança (CTNbio), que, por enquanto, tem a palavra final sobre o assunto. O confronto de posições chegou na semana passada ao presidente Fernando Henrique Cardoso, que tenta conciliar divergências entre as pastas da Agricultura, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente, Desenvolvimento e da Casa Civil. O ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg, por exemplo, rejeita a idéia de dividir entre a CTNbio e os órgãos ambientais a atribuição de definir o risco representado pelos transgênicos.

O debate sobre a liberação comercial dos transgênicos se acelerou depois que duas comissões internas do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) aprovaram um projeto tornando obrigatório o licenciamento ambiental para experimentos e produção de OGMs. O conselho propôs ainda o macrozoneamento ambiental com áreas livres de transgênicos, que seriam estabelecidas de acordo com a decisão autônoma de cada Estado.

A chave para resolver a controvérsia e acelerar o processo decisório parece estar na próxima reunião do Conama, prevista para o início de março. O texto que vai a plenário determina prazos e processos simplificados para que os órgãos ambientais deliberem sobre pedidos de licenciamento.

Em reunião com o presidente Fernando Henrique, o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, advertiu que o Brasil poderá perder mercado e competitividade no setor se demorar a definir regras liberalizantes ou proibir a produção de plantas transgênicas. (Agência Estado) 

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Para empresas, público precisa ser educado sobre a biotecnologia

"As pessoas não têm medo, estão apenas desinformadas", diz a diretora do CBI

HERTON ESCOBAR

Quem conhece, gosta. É com essa estratégia que trabalham as empresas de biotecnologia para convencer o público sobre a segurança dos alimentos geneticamente modificados, os transgênicos. "Quantos mais as pessoas são educadas sobre essa tecnologia, mais favoráveis elas são", garante a diretora-executiva do Conselho para Informações sobre Biotecnologia (CBI, em inglês) dos EUA, Canadá e México, Linda Thrane.

Segundo Linda, que veio ao Brasil para uma série de workshops com executivos do setor, a aceitação dos transgênicos depende de um público bem informado, tanto no supermercado como no campo, nas escolas e consultórios médicos. "As pessoas não têm medo da biotecnologia, estão apenas desinformadas." Ela compara os transgênicos às técnicas de cruzamento desenvolvidas nos anos 50.

"É a mesma tecnologia, só que muito mais precisa."

A diferença é que, na transgenia, o material genético inserido na planta vem de espécies diferentes, especialmente de bactérias, que conferem resistência a uma praga ou herbicida. Thrane lembra, no entanto, que os genes são apenas seqüências de moléculas comuns a todos os animais e vegetais. "Todos os transgênicos que estão no mercado hoje foram pesquisados por pelo menos 20 anos e devidamente aprovados pelos órgãos de biossegurança."

Segundo o diretor-executivo do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), a versão brasileira do CBI, Belmiro Ribeiro, estudos usados para criticar os transgênicos foram provados incorretos, mas continuam sendo citados pelos oponentes da tecnologia. "É uma ferramenta para assustar, não informar." Tanto o CIB quanto o CBI são mantidos por grandes empresas de biotecnologia.


O Estado de São Paulo, Quarta-feira, 30 de janeiro de 2002   
http://www.estado.com.br/editorias/2002/01/30/ger010.html


EUA propõem safra de soja menor no Brasil

Brasília - Produtores norte-americanos e canadenses querem que o Brasil reduza a área de soja para recuperar os preços internacionais da commodity. A proposta foi apresentada ontem pelo grupo Focus on Sabbatical à Confederação Nacional de Agricultura (CNA). A meta do grupo é de promover a redução de 29,3 milhões de toneladas de soja em todo o mundo - 10% da safra mundial -, o que incluiria a produção dos cinco maiores exportadores do grão - Estados Unidos, Brasil, Argentina, Austrália e Canadá. No momento, há um superávit em torno de 20% na safra mundial de soja.

Para isso, o grupo pretende formar um fundo com doações de produtores americanos - para subsidiar a redução do plantio nos outros países. Para isso, eles pagariam US$ 165 por hectare desocupado. No Brasil, os investimentos seriam superiores a US$ 380 milhões para uma safra 15% menor (6,3 milhões de toneladas). O grupo Focus on Sabbatical é formado por 3,5 mil produtores canadenses, que detém 10% da área cultivada naquele país, e outros 500 agricultores dos Estados Unidos, com 1% da área total.

'Se o Brasil não aderir, não vamos fazer os cortes', afirma Ken Goudy, da Focus on Sabbatical no Canadá. No momento em que os produtores estivessem acordados, avisariam o mercado com um ano de antecedência antes do início da redução do plantio. Goudy acredita que desde o anúncio, o preço internacional da commodity se recuperaria, passando de uma média de US$ 3,6 para US$ 6 por bushel.

Para o presidente da Comissão de Grãos e Oleaginosas da CNA Brasil, João Bosco Umbelino dos Santos, a proposta pode ser estudada, uma vez que oferece renda ao produtor. Mas servirá mais como argumento de negociação junto ao governo para combater os pesados subsídios norte-americanos. No entanto, Goudy nega que os subsídios oferecidos pelo governo dos EUA para seus produtores sejam os responsáveis pela diminuição do preço da soja. Segundo ele, foi o preço baixo do trigo que motivou o aumento da soja no país.

Vicente Nogueira Neto, economista da CNA, diz que o País precisa avaliar se a redução na soja não significaria aumento de outras oleaginosas em outros países. (Gazeta Mercantil/Página B14) (Neila Baldi)

Fonte:Gazeta Mercantil, 30 de janeiro de 2002

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