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15/03/2006 - A pouco menos de dois anos para 2008 — quando os países
signatários do Protocolo de Kyoto precisam começar a cumprir suas metas de
redução de emissão de gás carbônico — as negociações de créditos de carbono
atraem cada vez mais empresas brasileiras. O Ministério de Ciência e
Tecnologia já acumula 98 projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo
(MDL) em andamento, em diferentes estágios, aguardando aprovação. Empresas
como a Suzano Papel e Celulose , Sadia e Rhodia já estão preparadas para
este mercado, que mundialmente deve movimentar cerca de 34 bilhões de euros
até 2010.
O Brasil é o segundo país do mundo, atrás apenas da Índia, em número de
projetos que resultam em venda de créditos de carbono. Este ano, no entanto,
especialistas neste mercado acreditam que haverá uma verdadeira corrida das
empresas em busca da geração de créditos. “O mercado está em ebulição. Há
investidores batendo na porta das empresas querendo comprar créditos de
carbono”, observa Adriano de Souza, gerente de corporate finance da
Deloitte.
“Por outro lado, há novas metodologias de projetos sendo aprovadas pela
Organização das Nações Unidas (ONU). Assim, as companhias têm modelos já
aprovados que podem ser copiados, o que torna o processo mais rápido e
barato”, complementa Guilherme Fagundes, chefe do departamento de projetos
especiais da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).
A BM&F, atenta ao crescente interesse empresarial pelos créditos de carbono,
está se preparando para intermediar estas negociações ainda este ano, a
partir provavelmente do segundo semestre. “A Bolsa pretende organizar este
mercado no País, criando regras que irão conferir maior transparência às
negociações e induzir a um processo de formação de preços mais eficiente”,
explica Fagundes.
Desde o final do ano passado, a BM&F está trabalhando com um banco de
projetos em seu website. Lá, as empresas podem cadastrar seus projetos de
MDL, já validados ou em estágio de validação.
A partir destas informações, a Bolsa fará uma seleção daqueles mais
consistentes — com apoio da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) —
para iniciar a comercialização dos créditos. A Suzano é uma das empresas
brasileiras que está de olho no mercado internacional de créditos de
carbono. A empresa é cadastrada desde 2004 na Chicago Climate Exchange (CCX)
— Bolsa do Clima de Chicago — com projetos de reflorestamento de uma área de
40 mil hectares entre o norte do Espírito Santo e o sul da Bahia.
“Temos capacidade de geração de cinco milhões de toneladas de carbono”, diz
Luiz Cornacchioni, gerente da unidade de negócios florestais da empresa. A
comercialização destes créditos, que ainda não foi realizada, renderia para
a empresa um retorno de aproximadamente US$ 10 milhões. “O preço da tonelada
passou de US$ 0,80 em 2004 para US$ 2,17 em fevereiro deste ano”, destaca o
gerente, que analisa atentamente a variação de preços para decidir o melhor
momento para fechar negócio.
O valor supera em muito o investimento da Suzano, de cerca de US$ 150 mil,
em todo o projeto que possibilitou as negociações dos créditos. “Nosso
investimento na floresta já está feito e é amortizado com a venda da
celulose. Já os valores gerados com os créditos serão uma receita extra para
nós”, explica Cornacchioni.
A Suzano, por uma determinação da CCX, pode negociar créditos resultado de
reflorestamento concluído até 2006. Há, no entanto, possibilidade de este
prazo ser estendido até 2009. “Se isso de fato ocorrer, teremos mais áreas
para incluir nos projetos tanto na Bahia, quanto em São Paulo”, diz o
gerente.
A Sadia, por meio do Instituto Sadia , também tem ambições na área de
créditos de carbono. A companhia está implementando o Programa 3S
(Suinocultura Sustentável Sadia) em 3,2 mil propriedades que trabalham em
parceria na criação de suínos. A expectativa da Sadia é negociar 12 milhões
de toneladas de gás carbônico nos próximos 10 anos, o que deve gerar uma
receita da ordem de 108 milhões de euros, a preços atuais. Os valores devem
ser revertidos para os suinocultores com o desconto do valor do biodigestor,
que a Sadia fornecerá.
“Além do resultado em créditos, uma segunda fase do projeto permitirá a
geração de energia elétrica a partir dos resíduos e também biofertilizantes,
que os produtores poderão utilizar em outras culturas de suas propriedades”,
explica Meire Ferreira, coordenadora para sustentabilidade da Sadia.
A empresa já obteve um financiamento de R$ 60 milhões no Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a viabilização do projeto,
que deve incluir cerca de 1.000 propriedades até o final deste ano. “Ainda
não realizamos nenhuma venda de créditos, mas estamos mantendo negociações
no mercado europeu”, conta Meire.
Assim como Suzano e Sadia, a Rhodia está dando os primeiros passos nas
negociações internacionais de créditos de carbono. A empresa implantará uma
unidade em Paulínia, com investimento de US$ 11 milhões, que deve começar a
funcionar no primeiro semestre de 2007. No local, que será uma fábrica de
ácido adípico, a Rhodia deverá reduzir a emissão de óxido de nitrogênio em
aproximadamente 20 mil toneladas ao ano, equivalentes a seis milhões de
toneladas anuais de gás carbônico.
“Este será um novo negócio do Grupo. Sabemos que algumas empresas já sabem
que precisarão desses créditos, mas nenhum negócio foi efetuado até o
presente momento”, conta Jean-Pierre Clamadieu, CEO da empresa.
Fonte: Katia Hochman (DCI)
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