Em 2013, a jornalista Letícia Dias, 24 anos, decidiu que não iria consumir mais alimentos de origem animal. Em paralelo ao veganismo nas receitas, ela também escolheu evitar cosméticos testados em animais. No mesmo dia foi conferir as prateleiras do seu banheiro e decidiu pesquisar um pouco mais sobre as marcas que contemplavam os produtos ali amontoados. Surpresa: todos aqueles cremes, shampoos e até as maquiagens tinham os bichos como cobaia em seus testes.
Cinco anos depois, Letícia faz parte do grupo de pessoas que endossam o movimento cruelty-free na indústria de cosmético. Esses consumidores estão cada vez mais preocupados com os impactos da cadeia de produção na natureza. Eles aprenderam a ler os rótulos e querem entender os danos que cada um dos ingredientes sintéticos pode causar em sua pele, o maior órgão do corpo.
"Eu não joguei nada fora porque não queria produzir mais lixo, mas fiquei surpresa ao ver que tudo que eu tinha era testado em animais. Eu achava que esse era um comportamento de marcas super-antiquadas, que hoje em dia a indústria já era mais consciente. Mas não é bem assim", compartilha a pernambucana, em entrevista ao HuffPost Brasil.
Após encarar a realidade — e uma extensa pesquisa por meio de organizações de defesa dos animais —, Letícia começou a sua transição para cosméticos naturais.
"Eu fui fazendo a troca desses produtos à medida que eles iam acabando. Comecei a pesquisar sobre os parabenos e os petrolados. Queria entender o que eles eram, em quais produtos eles estavam e os efeitos que eles poderiam ter. Foi aí que eu decidi que não queria usá-los na minha pele", explica Letícia.
Se você, assim como Letícia, quer tornar a sua rotina de beleza um pouco mais ~verde~, o HuffPost Brasil preparou um pequeno guia para a sua transição.
A diferença entre Cosmético Orgânico, Natural, Vegano e Cruelty-Free
Para início de conversa, é preciso entender a diferença entre os vários selos e rótulos que as marcas utilizam. Algumas das especificações ainda são confusas, então cuidado: a falta de fiscalização dos parâmetros pode levar algumas marcas a se aproveitarem desses selos. Para não correr o risco de ser enganado, procure ler sempre os ingredientes dos rótulos e pesquise em listas de organizações certificadas, como a Cruelty Free International e a Vegan Society.
O cosmético vegano é aquele que não utiliza nenhum ingrediente de origem animal ou seus derivados, como mel, cera de abelha, colágeno, gelatina e outros. Já o cruelty-free é aquele que não é testado em animais. Atenção: ser cruelty free não necessariamente quer dizer que o produto é vegano e vice-versa.
O cosmético natural é aquele que não contém parabenos, fragrâncias ou essências artificiais e derivados do petróleo. Já o orgânico, além de ser natural, é livre de agrotóxicos e prioriza em suas fórmulas elementos biodegradáveis.
"No Brasil, para um produto ser considerado orgânico, ele precisa ter 95% de suas matérias-primas naturais e, dessa porcentagem, pelo menos 10% sejam matérias-primas vegetais orgânicas", explica Letícia Dias.
Eu preciso jogar todos os meus cosméticos de prateleira no lixo?
Não. Vá escolhendo aos poucos alguns produtos para ir inserindo em sua rotina de beleza. Espere terminar aqueles que você já usa e, em vez de comprar da mesma marca, pesquise aquela com uma pegada mais sustentável. Assim, você evita o desperdício.
Cosméticos naturais realmente funcionam ou eu só devo usá-los pela ideologia?
Quando se trata de produtos para a pele, a aplicação e o efeito de cada um deles são muito particulares. Primeiro, você precisa entender as necessidades do seu corpo para depois escolher o produto mais adequado.
"Eu tenho a pele muito sensível. Já cheguei a ter reações alérgicas de ficar com a pele em carne viva. Com esses produtos mais naturais, eu não consigo lembrar a última vez que eu tive uma alergia", conta Letícia.
O autoconhecimento é fundamental nessa transição. Assim, as pessoas observam como o corpo reage a cada ingrediente de um produto.
Esteja atento às embalagens
Sempre que você acabar com os seus produtos de beleza, esforçar-se para reciclá-los também ajuda o meio ambiente. Quer outra ideia? Os recipientes de seus produtos antigos com certeza podem ser reaproveitados. Retire os rótulos, lave-os bem e dê a cada potinho um novo começo!
Simplifique a sua rotina de beleza
Quando se trata de beleza natural, menos é sempre mais. Escolha produtos que tenham ações hidratantes e que minimizem a necessidade das infinitas etapas na sua rotina. Menos produtos significa menos desperdício.
Escolha produtos com neutralidade de gênero
Outra maneira de organizar sua rotina de beleza, especialmente se você mora com outra pessoa (ou pessoas), é compartilhar os produtos. Encontrar cosméticos que funcionem para todos os tipos de pele é uma solução fácil porque eles normalmente não costumam ser "masculinos" ou "femininos". Isso elimina a necessidade de cada pessoa ter seu próprio conjunto de produtos.
O que são os parabenos
Os parabenos são conservantes que protegem produtos contra o crescimento de fungos e bactérias. Essas substâncias ainda estão sendo estudadas pela indústria, mas o seu acúmulo no organismo está atrelado ao desenvolvimento de alergias e irritações. Para identificá-los, basta procurar pela palavra parabeno ou paraben na lista de ingredientes. No Brasil, a Anvisa determina que as fórmulas não podem conter mais que 0,4% de cada parabeno, nem somar mais que 0,8% de parabeno total na sua composição. Fique atento.
O movimento de cosméticos naturais no Brasil
Se os movimentos vegan e cruelty-free já são uma realidade em países como Estados Unidos, Espanha e Inglaterra, no Brasil não é diferente.
Com a ampliação dessa mentalidade contra uso de animais, marcas artesanais de cosméticos naturais aproveitaram a tendência do consumo consciente para abrir mercado no País.
Para Luisa Baims, responsável pela marca de maquiagem, bastou ir morar na Alemanha para perceber o cuidado que eles tinham no momento de escolher os seus produtos para consumo. Atrelada à preocupação com os animais e o ambiente, Luisa sofre com a psoríase, uma doença de pele que exige que ela tenha mais cuidados com os produtos que usa.
Nesse processo, veio a pergunta: o que estou fazendo e o que posso fazer para melhorar o meu estilo de vida e para ver um mundo melhor? Nasceu, então, a Baims.
"Foi e tem sido um grande desafio entrar num mercado como o Brasil, com uma marca nova, onde a escassez de cosméticos naturais e orgânicos é grande e a procura por estes produtos é ainda bem pequena pela própria falta de informação ou conscientização", revela Luisa ao HuffPost. "Mas temos sido positivamente surpreendidos pela aceitação e grande interesse das pessoas em conhecer nossos produtos. As pessoas estão se tornando cada vez mais conscientes, entendendo o impacto dos cosméticos convencionais na saúde e no meio ambiente. Não querem somente ficar bonitas, mas usar produtos que cuidem da pele, sem agredir."
A marca de maquiagem trabalha com produtos orgânicos e com o BBA (BioBehenic Active), um ativo natural que apresenta atividade clareadora e propriedades anti-idade.
"Eles tratam, nutrem e protegem a pele. O único que ficamos devendo às convencionais é o rímel e delineador, que têm menor duração por não serem à prova d'água", defende.
Fonte:HulfpostBrasil em 29-04-2018 por Ana Beatriz Rosa
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