qualquer avaliação mais realista do desempenho
da soja transgênica no Rio Grande do Sul continua protegida sob a blindagem
da não divulgação de dados oficiais completos e transparentes.
Apesar disso, as estatísticas já divulgadas, ainda que em partes,
nos permitem, mais uma vez, afirmar que as promessas da indústria da
biotecnologia não têm se transformado em benefícios concretos.
Uma nota publicada na revista Globo Rural de julho traz alguns
números do Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal
do Ministério da Agricultura (MAPA). De acordo eles, a soja transgênica
foi produzida em seis estados, sendo que 88,1% no Rio Grande do Sul. Foram
colhidas 4,1 milhões de toneladas do produto geneticamente modificado
em 2,78 milhões de hectares. E a nota para por aí.
O que ela não mostra é que esses dados indicam
que a produtividade média nacional da soja transgênica foi de
1.475 Kg/ha, enquanto a média nacional, descontando-se a produção
transgênica, foi de 2.545 Kg/ha. Ou seja, de acordo com esses dados
do MAPA, a soja convencional apresentou nada menos que uma produtividade média
72.52% superior à da transgênica.
Esses dados não podem ser tomados como absolutos.
Pode-se argumentar que a produção no Sul foi fortemente prejudicada
pela seca, o que de fato aconteceu. Por outro lado, a soja nas demais regiões
sofreu prejuízos significativos causados por uma doença conhecida
como ferrugem asiática. Ainda assim, cabe a pergunta: a soja transgênica
no Sul sofreu mais que a convencional com a seca? Quem sabe? Relatos dessa
safra e de outras anteriores indicam que sim, embora não tenham sido
conduzidos estudos para verificar a campo esta hipótese.
O lobby pró-transgênicos adota um discurso em
favor do avanço científico para justificar a necessidade da
liberação facilitada dos transgênicos, mas, contraditoriamente,
é ele quem mais tem se beneficiado da carência de pesquisas e
dados na área.
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Continua sendo fundamental sua participação
na campanha de envio de mensagens aos senadores, que, ao que tudo indica,
deverão votar na próxima semana a lei de Biossegurança,
que regulamentará a produção de transgênicos no
País.
Setores do Congresso Nacional estão propondo modificações
no projeto de lei de forma a facilitar a entrada de transgênicos em
nossa agricultura e alimentação sem que antes sejam realizadas
as avaliações de riscos à saúde e ao meio ambiente.
Além de telefonar e enviar cartas e fax aos senadores
rejeitando essas mudanças (veja os contatos em www.senado.gov.br),
você e/ou sua organização podem enviar mensagens pela
página do Idec na internet, através do http://www.idec.org.br/carta_modelo.asp?id=37
.
1. Embrapa multiplica sementes transgênicas
2. Justiça vai fiscalizar rotulagem de produtos
3. Produtores de soja multados em Goiás
4. Croácia destrói milho transgênico
5. Decisão sobre OGMs na Tailândia
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos
não são a solução para agricultura
Mandala: a experiência do Assentamento Acauã
Dica sobre fonte de informação
Livro: Cultivando la Diversidad en Colombia: Experiencias locales de crianza
de la biodiversidad. Proyecto "Cultivando Diversidad". Grupo Semillas,
2004
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1. Embrapa multiplica sementes transgênicas
Sementes de soja transgênica estão sendo multiplicadas no Centro-Oeste
com o aval do governo federal. Desde junho, sob sigilo e cuidados técnicos,
a Embrapa monitora lavouras irrigadas e autorizadas pelo Ministério
da Agricultura. Uma produção estratégica, que servirá
para abastecer produtores de sementes do Rio Grande do Sul, do Paraná
e de Goiás ainda nesta safra.
O projeto, que começou a ser desenhado no ano passado, é uma
preparação para a liberação comercial dos transgênicos.
(...)
É a fase inicial da legalidade -- explica o gerente-geral do Centro
de Transferência de Tecnologia da Embrapa, Pedro Moreira da Silva Filho.
Esse é só o primeiro passo. No ano que vem, as sementes serão
vendidas para o agricultor em quantidades ainda maiores. (...) Se não
estivéssemos multiplicando a soja agora, os produtores de sementes
só teriam acesso à transgênica da Embrapa em 2006. Fomos
salvos pela geração de inverno -- diz Moreira.
A soja é uma produção de verão. O clima quente
e seco do Planalto Central, de Tocantins e de Minas Gerais, em conjunto com
os pivôs de irrigação, no entanto, formam o ambiente ideal
para quem tem pressa na produção de sementes. Além disso,
a Embrapa firmou parcerias com agricultores de primeira linha.
São alguns gaúchos, que carregam na história o hábito
do cultivo da soja. Eles ficaram com a responsabilidade dessa produção,
que será colhida em outubro. Cercada de cuidados, essa não é
uma lavoura normal. Ao redor da área plantada com transgênicos
há uma espécie de moldura de cinco metros de largura com soja
convencional, assegurando que não haverá escape de transgênicos
para áreas próximas. Técnicos visitam as propriedades
freqüentemente.
Nesta semana, quando o plantio está em plena floração,
equipes da Embrapa passeiam pelas fazendas. A vizinhança já
começa a desconfiar da movimentação diferente no local.
A presidência da Embrapa e o Ministério da Agricultura preferem
não divulgar o lugar exato ou o nome desses produtores. Há o
temor de que movimentos sociais contrários aos transgênicos,
como os sem-terra, destruam as lavouras antes da colheita.
Não queremos que se repita o que já houve no Rio Grande do Sul
-- lembra um assessor da Embrapa, resgatando os episódios de destruição
de lavouras, como a invasão de uma área experimental no município
de Não-Me-Toque.
O prejuízo seria irreversível. Para colocar em prática
esse projeto, a Embrapa firmou convênios com fundações
privadas de produtores de sementes, que investiram pesado no negócio.
Estamos aplicando R$ 1 milhão na multiplicação dessas
sementes. Mas vai valer a pena. Precisamos recuperar o mercado que desapareceu
para o produtor de semente legal desde que a transgênica clandestina
entrou no Estado -- reconhece Rui Rosinha, assessor técnico da Fundação
Pró-Semente, com sede em Passo Fundo. A Associação dos
Produtores de Sementes do Estado (Apassul) reconhece que, hoje, só
há semente convencional certificada para atender no máximo 10%
da área plantada no Estado. Em 1997, antes da febre dos transgênicos,
esse índice chegava a 70%.
Zero Hora, 20/08/2004.
N.E.: Cabe lembrar que a mesma lei que autorizou a multiplicação
de sementes para a safra anterior por empresas cadastradas pelo Ministério
da Agricultura, proíbe sua comercialização até
o estabelecimento de uma legislação definitiva sobre o assunto.
2. Justiça vai fiscalizar rotulagem de produtos
A Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça,
deflagra nos próximos dias uma ação de fiscalização
para checar se as empresas estão cumprindo a exigência de rotulagem
para produtos transgênicos. Em conjunto com o Ministério da Agricultura,
a SDE identificou vinte e cinco categorias de produtos que podem estar com
as embalagens fora do padrão estabelecido pela lei. A fiscalização
será feita pelo Departamento de Defesa do Consumidor (DPDC), vinculado
à SDE, em parceria com os Procons e os Ministérios Públicos
do Consumidor nos Estados.
O decreto 4.680, de 2003, estabeleceu que as embalagens de alimentos e ingredientes
alimentares destinados ao consumo humano ou animal, que tenham acima de 1%
do total do produto de organismos geneticamente modificados, contenham em
destaque o símbolo e a informação de "transgênico".
Houve apenas uma exceção para a soja transgênica colhida
em 2003. Nesse caso, as embalagens deveriam trazer a expressão "pode
conter soja transgênica" ou "pode conter ingrediente produzido
a partir de soja transgênica". (...)
Agência Estado, 19/08/2004.
3. Produtores de soja multados em Goiás
Cinco produtores rurais foram multados por plantarem soja transgênica
sem terem assinado o Termo de Compromisso, Responsabilidade e Ajustamento
de Conduta do Governo Federal. As multas serão no valor de R$ 16.100
mais 10% deste valor para cada tonelada vendida.
Os grãos de soja serão liberados para comercialização
mediante rotulagem. De acordo com a Delegacia do Ministério da Agricultura
de Goiás, foram fiscalizados 135 produtores de grãos, sendo
que 108 tinham assinado o termo de ajustamento de conduta. Destes, apenas
19 utilizaram sementes transgênicas.
Diário da Manhã, Goiânia, 19/08/2004.
4. Croácia destrói milho transgênico
O Ministério da Agricultura da Croácia destruirá todas
as plantações de milho híbrido geneticamente modificado
semeado em 1.790 hectares de terras no país. A semente transgênica
de milho da companhia Pioneer tinha sido vendida na Croácia sob o nome
“PR34G13”, apesar de a legislação do país
balcânico proibir o cultivo de organismos geneticamente manipulados.
As autoridades anunciaram que começarão processo judicial contra
a companhia e que pedirão indenização pelos danos ocasionados.
Gazeta Mercantil, 18/08/2004.
5. Decisão sobre OGMs na Tailândia
O Primeiro Ministro da Tailândia, Thaksin Shinawatra decidirá
hoje o futuro das plantações transgênicas no país.
Em encontro com o Centro Nacional para Engenharia Genética e Biotecnologia
(Biotec), três propostas lhe serão apresentadas: apoio total
aos transgênicos, promoção dos plantios transgênicos
em conjunto com outras formas de produção, e a proibição
dos cultivos geneticamente modificados.
Witoon Lianjamroon, diretor da Ação para Biodiversidade e o
Direito Público, uma organização não-governamental,
acredita que os detalhes de cada uma das propostas levarão o Primeiro
Ministro a escolher entre a primeira ou a segunda opção. Witoon
diz que as três opções parecem uma armadilha. Se Thaksin
apoiar os cultivos transgênicos, ele sofrerá as conseqüências.
“Ele será exposto aos críticos em relação
aos transgênicos, que são a maioria da população
do país”, diz.
A segunda opção é nada mais que um sinal verde para a
disseminação dos transgênicos pelo país, já
que, segundo Witoon, é impossível de ser implementada na prática.
(...)
O jurista Charoen Kamphiraphab manifestou sua frustração em
relação às opções, dizendo que o país
poderia obter benefícios do uso da biodiversidade sem a necessidade
de transgênicos. “Os transgênicos de cunho comercial irão
afetar outras técnicas agrícolas e prejudicar nossa economia
auto-suficiente”, diz ele.
Cahroen disse que a Tailândia se torná dependente de companhias
norte-americanas produtoras de sementes geneticamente modificadas, caso adote
uma política pró-transgênicos. Ele suspeita que empresas
dos Estados Unidos pressionaram o Estado a abrir seu mercado aos transgênicos.
Um representante de uma grande companhia de biotecnologia reuniu-se com o
primeiro ministro em janeiro.
http://nationmultimedia.com, 20/08/2004.
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos
não são a solução para agricultura
Mandala: a experiência do Assentamento Acauã
O assentamento Acauã, organizado graças à luta das famílias
agricultoras, fica no município de Aparecida, no Alto Sertão
da Paraíba. Em 2001, as famílias ocuparam o canal da Redenção
para reivindicar água para o assentamento, pois era ano de seca e o
Governo proibira o uso da água do canal. Com a pressão, o Governo
enviou seus secretários de Recursos Hídricos e da Agricultura
para a região. O resultado foi a aprovação do projeto
Mandala, que trouxe água para o quintal de casa e também a melhoria
do sistema de abastecimento do assentamento.
A experiência do uso de mandala para armazenar água foi trazida
pelo consultor Willi, do SEBRAE. A primeira a ser construída era de
uso comunitário, localizada no prédio da associação.
Hoje já existem 63 mandalas no assentamento.
Jamilton, um dos coordenadores do projeto no assentamento, explica que a mandala
é um sistema integrado. O farelo de milho alimenta o marreco e a sobra
da comida alimenta as galinhas. As fezes do marreco servem de ração
para os peixes. A água irriga as plantas e os canteiros de hortaliças,
e tudo isso melhora a condição de vida da família.
Cada família aprendeu a fazer sua mandala
Para a construção da mandala deve-se primeiro escolher um local
perto de casa. Depois com um bastão de madeira marca-se o centro da
mandala, com um cordão de três metros de comprimento com um outro
bastão de madeira amarrado na ponta, marca-se a roda correspondente
ao tamanho do buraco que deverá ser cavado para a construção
da mandala. Deve-se começar a cavar pelo meio. O buraco deve ter 1,5
metro de profundidade e o formato de um funil.
Com o buraco cavado inicia-se a outra parte do trabalho, que é rebocar
as paredes com cimento areia e tijolo. A água do tanque formado é
bombeada para irrigar a produção que circunda o tanque através
de tubos plásticos perfurados, que podem aproveitar, por exemplo, cotonetes
de ouvido como aspersores. Uma de suas pontas é presa ao furo. A outra
é vedada a fogo. O jorro d’água sai de um corte feito
na lateral do cotonete, e é capaz de alcançar um metro de distância
em qualquer direção bastando para tanto girar a haste oca.
Boletim Informativo da Agricultura Familiar, AS-PTA.
Dica sobre fonte de informação
Cultivando la Diversidad en Colombia: Experiencias locales de crianza de la
biodiversidad
Proyecto "Cultivando Diversidad". Grupo Semillas, 2004
Ligadas ao projeto Cultivando a Diversidade, vinte organizações
de índios, negros e agricultores colombianos participaram de um processo
de documentação e divulgação de suas experiências
agroecológicas com o objetivo de compartilhá-las com outros
grupos da América Latina. Este livro mostra a existência de numerosas
propostas no campo da agroecologia que apontam caminhos para que as políticas
de estado possam fortalecer as experiências dessas comunidades de produtores
no manejo sustentado da biodiversidade.
Maiores informações: Grupo Semillas - Bogotá, Colômbia
- [email protected]
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Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
Este Boletim é produzido pela AS-PTA - Assessoria
e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa [Tel.: (21) 2253-8317
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=> Para acessar os números anteriores Boletim e
outros documentos publicados pela Campanha, clique em: http://www.aspta.org.br.
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