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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS E AGROTÓXICOS
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Número 516 - 19 de novembro de 2010
 
Car@s Amig@s,
 
Depois do aval da CTNBio, agora foi a vez dos órgãos federais de registro de agrotóxicos autorizarem a aplicação de herbicidas sobre o milho transgênico.
 
O milho Liberty Link da Bayer foi aprovado pela CTNBio em 2007 contra manifestações formais do Ibama e da Anvisa, mas seu cultivo foi suspenso em julho passado pela Justiça a partir de ação da AS-PTA, Terra de Direitos, Idec e ANPA. Nesse meio tempo foi concedida autorização para que agrotóxicos à base de glufosinato de amônio fossem aplicados sobre essa variedade de milho modificado.
 
Para estes produtos, de classe toxicológica III, foi definido Limite Máximo de Resíduo (LMR) de 0,05 mg/kg nas culturas transgênicas e Ingestão Diária Aceitável (IDA) de 0,02 mg/kg. Curiosamente, o prazo entre a aplicação do veneno e a colheita ou comercialização do produto é maior para o algodão do que para o milho e a soja. O chamado intervalo de segurança é de 116 dias para o algodão transgênico, de 30 para o milho e de 10 para a soja Liberty Link.
 
No caso do milho Roundup Ready 2 (NK603) da Monsanto, a mudança no registro do herbidica glifosato foi divulgada dia 11 pelo Ministério da Agricultura.
 
O limite de resíduo para o glifosato, de classe toxicológica IV, foi multiplicado por 10, saltando de 0,1 para 1,0 mg/kg. O intervalo de segurança para a cultura foi fixado em 90 dias. A Ingestão Diária Aceitável é de 0,042 mg/Kg.
 
A título de comparação, o resíduo de glifosato para o feijão comum é de 0,05 mg/kg.
 
No caso do algodão resistente ao glifosato, o resíduo permitido é de 3,0 mg/kg e o intervalo de segurança é de 130 dias.
 
Antes da liberação da soja Roundup Ready, o resíduo permitido para a cultura era de 0,2 mg/kg. Mas este valor foi aumentado em 50 vezes para tornar legalmente aceitável a soja que passou a ser colhida com cada vez mais resíduo de agrotóxicos em função do uso das sementes modificadas. O prazo de carência para a cultura é de 56 dias.
 
Diversas pesquisas já mostraram o impacto do glifosato à saúde, revelando que exposições breves ao Roundup causaram danos no fígado de ratos e que o glifosato age em sinergia com os demais ingredientes do herbicida aumentando os danos ao fígado. Também já foi demonstrado que o produto apresenta toxicidade a células da placenta em concentrações inferiores às empregadas nas lavouras comerciais e que mesmo em concentrações subtóxicas o produto age como desruptor endócrino.
 
Diante de todos esses fatos, a Monsanto afirmou em nota sobre a mudança do registro do glifosato para o milho que sua tecnologia “permite uma redução do número de aplicações de herbicidas com aumento de rentabilidade”.
 
 
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Neste número:
 
1. Sementes crioulas preservadas
2. Biopirataria
3. Agricultura familiar salvou país da crise de alimentos, diz pesquisadora
4. O problema da vizinhança
5. Cresce rejeição dos europeus aos transgênicos
 
A alternativa agroecológica
 
Algodão agroecológico é alternativa de cultivo
 
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1. Sementes crioulas preservadas
 
Projeto selecionou 22 produtores como guardiões da espécie
 
Lavouras de milho começam a se desenvolver em todo o Estado, mas, em Tenente Portela, têm um ingrediente especial: a utilização de sementes crioulas, com o objetivo de que as espécies não se percam em meio ao uso dos transgênicos.
 
O agricultor Leonel Lanz de Azevedo, 49 anos, maneja as sementes crioulas de milho como se fossem um tesouro. Cuidadosamente, coloca-as em garrafas. Tem consciência de que ali está guardando sua contribuição para a manutenção de uma espécie.
 
Morador de Alto Alegre, interior de Tenente Portela, onde cultiva dois hectares para subsistência, Azevedo é um dos 22 “guardiões” das sementes selecionados pela prefeitura para a missão de preservar espécies crioulas.– São sementes passadas de geração em geração. Sinto muito orgulho em preservá-las – explica o agricultor. Mesmo sabendo que a espécie não é tão rentável quanto o milho transgênico [ponha os custos na ponta do lápis e verá que a realidade é outra], conhece a importância da missão.
 
O programa Guardiões da Agrobiodiversidade é uma iniciativa do Departamento de Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural de Tenente Portela, em parceria com a Emater, o Conselho de Missão Entre Índios (Comin), o Conselho Intereclesial de Igrejas e o Ministério da Agricultura.A iniciativa reúne ainda três grupos indígenas, que preservam espécies nativas. Os guardiões recebem recursos para subsidiar o plantio das variedades e acompanhamento de técnicos para organização, planejamento da produção e melhorias nas propriedades. Até o momento, já foram identificadas e estão sendo resgatadas 14 variedades de milho crioulo e uma de milho nativo.
 
A Embrapa desenvolve programa semelhante. O grande diferencial das sementes crioulas está na qualidade da alimentação que proprocionam, como explica o pesquisador do órgão Gilberto Bevilaqua:
 
– Muitas chegam a ter 10, 20 vezes mais aminoácidos essenciais, minerais e outros micronutrientes.
 
Zero Hora-RS, 12/11/2010.
 
2. Biopirataria
 
Pioneiro na pesquisa de produtos transgênicos no Brasil, o cientista da Embrapa Elibio Rech sentiu o lado amargo do seu trabalho. Acaba de ser multado em cerca de R$ 100 mil pelo Ibama. O órgão alega que ele pegou sem licença aranhas nativas na Mata Atlântica, na Amazônia e no Cerrado. O estudo dos genes que Rech faz visa a produção de um fio sintético mais forte que o aço, a partir das teias das aranhas. Os ministérios da Ciência e Tecnologia e da Defesa apoiam o pesquisador.
 
Coluna do Boechat, Revista Isto É, 17/11/2010.
 
3. A agricultura familiar salvou país da crise de alimentos, diz pesquisadora
 
A professora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Resemeire Aparecida de Almeida, concluiu que no no Paraná e no Mato Grosso do Sul, a agricultura familiar impediu uma crise no abastecimento de alimentos na última década
 
Ela analisou dados do dos Censos Agropecuários do IBGE de 1996 e 2006. De acordo com a professora, 64% da produção de alimento nesse período, veio das pequenas unidades de produção.
 
As propriedades com mais de dois mil hesctares conseguiram um financiamento de mais de R$ 1 bilhão e geraram um valor de produção pouco maior que R$ 500 milhões. Já as propriedades menores que 50 hectares multiplicaram por 20 um crédito de R$ 2,4 milhões.
 
Rosemeire explica que nas cidades onde as propriedades são maiores, predominam o desemprego e condições precárias de vida. São locais onde se instalam empresas de monocultivo como a celulose, por exemplo, e assim, deixa-se de plantar arroz e feijão.
 
Agência Pulsar Brasil, 08/11/2010.
 
 
4. O problema da vizinhança
 
Reportagem de Marina Lopes para o Zero Hora (13/11) revela o problema enfrentado em Uruguaiana (RS) por produtores vizinhos de arrozeiros. O nome do produto não é citado, mas o fato é que os venenos aplicados no arroz são carregados pelo vento e estão afetando a produção de hortaliças dos agricultores vizinhos.
 
O destaque da matéria vai para o pouco caso feito pelo pesquisador do IRGA, para quem a contaminação das hortaliças não causa danos à saúde dos consumidores. Fala como se fosse esse o problema. Além da impossibilidade de evitar a contaminação de suas plantações por agrotóxicos indesejados, produtores da região já relataram prejuízos de até 80%.
 
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Herbicida divide Uruguaiana
 
Produto usado no arroz estaria causando danos a pequenos produtores
 
Um impasse entre pequenos agricultores e arrozeiros de Uruguaiana migrou das lavouras para a promotoria e a prefeitura. Denúncias de uso indevido das pulverizações com herbicidas motivaram uma apuração do Ministério Público e uma audiência pública, realizada ontem.
 
De 2009 para cá, o vereador Luis Risso (PMDB), organizador da audiência pública, recebeu 50 reclamações de produtores de hortaliças e pequenas culturas de que as pulverizações com herbicidas em lavouras de arroz acabam, conforme a intensidade do vento, atingindo e danificando plantações em áreas limítrofes.
 
Ademir Bertolo e Derlei Vasconcellos têm cerca de um hectare e registraram o prejuízo na Polícia Civil e procuraram a promotoria.
 
- No ano passado, perdi 80% do que plantei. Este ano, tive de replantar 40%. E o principal mercado para o qual eu fornecia hortaliças me dispensou, porque o consumidor reclama que a folha tem sinais de agrotóxico – explica Vasconcellos.
 
O diretor técnico do Instituto Riograndense do Arroz (IRGA), Valmir Menezes, explica que não há relato de que o consumo humano de hortaliças atingidas cause dano à saúde:
- Mas é preciso bom senso entre vizinhos produtores, e que os arrozeiros evitem aplicações aéreas, em que o risco de deriva é maior.
 
Walter Arns, presidente da Associação dos Arrozeiros da cidade, diz que a entidade defende as boas práticas e já treinou mais de cem pessoas para aplicação correta de agroquímicos. O promotor Cláudio Ari Mello ouvirá as partes até o final do mês.
 
Zero Hora, 13/11/2010.
 
 
5. Cresce rejeição dos europeus aos transgênicos
 
Notas enviadas pelo GMWatch em 12/11 sobre nova pesquisa de opinião sobre biotecnologia divulgada pelo Eurobarometer.
 
A pesquisa mostra que para o público europeu a comida transgênica não oferece benefícios, é insegura, injusta e preocupante.
 
De 1996 a 2010, os levantamentos realizados pelo Eurobarometer identificaram uma queda na tendência de apoio aos transgênicos na Europa, sendo que hoje são apenas 5% os que apoiam os fortemente.
 
Mesmo na Espanha, um dos países que mais defendem os transgênicos no continente e que cultiva milho GM comercialmente, em cinco anos caiu em 20% o apoio da população aos transgênicos.
 
O levantamento também registrou forte oposição à clonagem animal, com apenas 18% dos entrevistados manifestando-se favoravelmente à técnica. (p.41-45)
 
Alguns resultados:
 
=> 61% dos entrevistados são contrários aos alimentos transgênicos (no levantamento de 2007 essa taxa era de 58%)
 
=> 70% acreditam que os transgênicos são fundamentalmente antinaturais
 
=> 59% avaliam que os transgênicos não são seguros para sua saúde nem para a de sua família
 
=> 58% afirmam que os transgênicos não são seguros para as futuras gerações
 
=> menos de 1/3 dos entrevistados acredita que os produtos transgênicos são bons para a economia.
 
A pesquisa também aponta elevada conscientização sobre o tema (84%).
 

A alternativa agroecológica
 
Algodão agroecológico é alternativa de cultivo
 
Produção de algodão diferenciado no Ceará já apresenta resultados positivos para os agricultores, com o lucro bem maior. O produto é, inclusive, exportado para Europa
 
Produtores, compradores e organizações discutem os benefícios do cultivo do algodão diferenciado
 
Quixadá – CE. Pequenos produtores rurais, compradores, representantes de organizações não governamentais e técnicos de órgãos oficiais participam neste Município do IV Seminário do Algodão Agroecológico do Semiárido. Além de representantes de todas as regiões do Ceará, comitivas da Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte discutem até amanhã sobre mercado e qualidade, comércio justo e certificação orgânica do produto natural fibroso.
 
Na oportunidade serão apresentadas propostas de monitoramento dos transgênicos. O cultivo das matrizes vegetais modificadas geneticamente em laboratório é considerado pela Rede do Algodão Agroecológico do Semiárido uma ameaça ambiental e de contaminação das culturas de plantio em sistemas naturais sustentáveis. Neles não há utilização de agrotóxicos, adubos químicos ou outros insumos prejudiciais à saúde humana. Esse processo é conhecido popularmente como agroecologia.
 
Segundo o engenheiro agrônomo do Esplar - Centro de Pesquisa e Assessoria, Pedro Jorge Lima, membro da Rede Agroecológica e um dos articuladores do encontro, a cada ano esse grupo se fortalece. Na primeira edição, na localidade de Lagoa Seca, na Paraíba, pouco mais de 300 produtores rurais apostavam no cultivo consorciado com a cotonicultura diferenciada. Hoje, 1.350 deles estão espalhados pelo Nordeste.
 
Embora este ano o inverno não tenha atendido às expectativas, a produção foi bem abaixo do esperado. A tendência é continuarem apostando na alternativa assessorada pelo Esplar, no País há mais de 15 anos. Ao fazer essas considerações, o engenheiro agrônomo da Embrapa, Melchior da Silva, cita como exemplo a praga do bicudo. "Foi mais um mito criado pelos controladores do mercado de que é um grande mal à produção".
 
O agricultor José Sinésio da Silva concorda com o técnico. Os produtores estão perdendo o medo do besouro nocivo às lavouras de algodão. Ele confessa ter abandonado a monocultura quando o bicudo começou a atacar sua terra natal, a Paraíba, no início da década de 1980. Foi necessário mais uma década para conhecer e passar a confiar na proposta do Esplar. Em 2004 conheceu a agroecologia. No princípio não confiava, mas os resultados vieram após o primeiro plantio. Colheu menos e lucrou mais. Antes vendia o quilo a R$ 0,80. A mudança de manejo passou a lhe render mais R$ 4,00 por cada quilo.
 
Políticas Ecológicas
 
"A resposta para a valorização das plumas naturais está nas políticas ecológicas e sociais aplicadas pelas empresas interessadas no comércio justo", explica a representante comercial da Veja Fair Trade, Aurélie Dumont. Ela veio da França para participar do seminário. A sua empresa e outras duas, a Tudo Bom? e a EnVão, com sede naquele País da Europa, comercializam produtos criados nesses contextos. Conquistaram uma clientela especial na Europa. A tendência é expandir ainda mais. Um par do tênis de algodão especial, lançado em 2005, custa em média 80 euros. Quem compra diz ficar satisfeito. A produção conta com matéria-prima do Ceará, Amazônia e Rio Grande do Sul.
 
Diário do Nordeste, 11/11/2010.
 
 
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
 
Este Boletim é produzido pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e é de livre reprodução e circulação, desde que citada a AS-PTA como fonte.
 

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