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Contrabando de Agrotóxicos No Sul




Passo Fundo centralizava o maior esquema

O maior esquema de cargas roubadas e contrabandeadas de agrotóxicos já descoberto no Brasil tinha a região de Passo Fundo como principal rota de escoamento.

Investigações comandadas pelo delegado Mário Vieira, da Delegacia da Polícia Federal (PF) de Passo Fundo, revelaram ao país uma rede composta de contrabandistas e receptadores de veneno agrícola que atuava em oito Estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso e Bahia.


Foi em junho de 2001 que a PF, a partir de dois depoimentos, mapeou a atuação do grupo. A quadrilha era comandada pelo mineiro Valdenir Bueno, o Véio, empresário goiano que atua em Minas Gerais e com prisões decretadas em três Estados. Ele se apresentava como Valdair José Medeiros e estava a frente da empresa Agropecuária Novo Milenium Ltda, de Uberlândia (MG), que só existia no papel. Bueno chegou a ser preso, mas fugiu de uma cadeia em Marília (SP) e continua foragido.


Um dos depoimentos-chave coletados pela PF foi de um homem que centralizava há três anos a distribuição de defensivos ilegais no sul do país. Ele apontou Véio como chefe de um esquema nacional de compra e revenda de defensivos roubados que tinha representantes nas cidades de Erechim, Passo Fundo, Getúlio Vargas (RS), Xanxerê e Balneário Camboriú (SC), Cambé, Francisco Beltrão, Apucarana e Ponta Grossa (PR), Uberlândia (MG), Campo Grande e Sete Quedas (MS), Tapurá (MT) e Salvador e Barreiras (BA).


Conforme o depoimento, Véio mandava matar todos os receptadores que não pagassem as mercadorias, usando para isso dois pistoleiros mato-grossenses, conhecidos como Mancha e Calau.


Foi a partir de uma ameaça de morte supostamente proferida por Véio que a PF pegou o fio da meada. Um revendedor de defensivos de Passo Fundo procurou os policiais e se disse ameaçado pela quadrilha, porque se recusava a pagar um lote de 8 mil litros de defensivos comprados do bando.


O motivo da recusa era simples: o produto era Classic falsificado. O receptador descobriu isso mandando fazer um laudo na Universidade de Campinas (Unicamp). O suposto agrotóxico era um fermento. Ao tentar devolver o produto à quadrilha, o vendedor foi ameaçado e resolveu denunciar o esquema.


A investigação resultou na decretação da prisão preventiva e no indiciamento por receptação, estelionato e formação de quadrilha de sete empresários e transportadores. O trabalho provocou a apreensão de 20 mil litros de defensivos falsificados e roubados vendidos entre Rio Grande do Sul e Paraná.


Dois juízes federais se julgaram incompetentes para julgar o caso, alegando, entre outros motivos, que os crimes eram de alçada estadual (estelionato). O inquérito foi parar no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que decidirá quem julgará o processo. Os sete presos acabaram liberados, e parte da carga apreendida, devolvida aos antigos donos.


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Para driblar proibição, basta atravessar a rua


FÁBIO SCHAFFNER E LUÍS EDUARDO AMARAL


As fronteiras do Rio Grande do Sul com o Uruguai facilitam o acesso a agrotóxicos produzidos no território vizinho e proibidos no Brasil.


Além do preço menor, na maioria dos casos basta atravessar uma rua para entrar no Estado com os herbicidas piratas.


Na uruguaia Chuy, na fronteira com Chuí, no extremo sul do país, a loja Agrotécnica vende o quilo do agrotóxico Kayac a US$ 240 (R$ 685). O herbicida é o similar uruguaio do brasileiro Ajax 500. Segundo um dos vendedores, três gramas do veneno são suficientes para imunizar um hectare.


No local, é possível comprar o Herbex, proibido no Brasil, conforme lista elaborada pelos fabricantes. O quilo do produto custa US$ 165 (R$ 471). A loja fica a menos de cem metros da fronteira entre os dois países.


Em Jaguarão, a Agropecuária Fronteira vende os herbicidas Ally e Sanson, ambos permitidos no Brasil. O pacote contendo 33 gramas do Ally custa R$ 84 e é suficiente para uma área de 10 hectares. Já o Sanson custa R$ 67 por litro. Um dos vendedores, porém, incentiva a compra do outro lado da fronteira, na cidade uruguaia de Rio Branco.


­ Lá o senhor encontra por muito mais barato. Não pode entrar no Brasil com eles, mas é fácil passar pela aduana ­ afirma.


A venda de herbicidas na cidade uruguaia de Rivera prejudica veterinárias de Santana do Livramento, que não conseguem concorrer com os preços do outro lado da fronteira. Esses produtos são negociados a dólar, e mesmo assim são mais baratos do que no Brasil.


Zero Hora visitou algumas lojas no centro de Rivera e constatou a facilidade que os brasileiros encontram para comprar herbicidas. O benefício é o preço, mas há desvantagens como cometer crimes de contrabando e aquisição de medicamentos de péssima qualidade.


Na Avenida Sarandi, por exemplo, a loja El Gaucho vende um quilo de glifosato, veneno aplicado na lavoura antes do preparo do solo, por US$ 2,58 (R$ 7,3), enquanto na veterinária Xiru, uma das principais de Livramento, ele custa em torno de R$ 11. Apesar dos produtos citados terem registro no Brasil, a sua entrada configura o crime de descaminho.


Já na Veterinária La Rural, na mesma Sarandi, um brasileiro pode comprar Herbex ­ produto sem registro no Brasil, com suspeita de provocar câncer e deformações nas pessoas. A origem desses venenos seria a China.


Não há como impedir a venda dos herbicidas nas lojas de Rivera já que a legislação daquele país permite, e os comerciantes emitem nota. O crime ocorre quando os produtos entram no Brasil. Um arrozeiro de Cruz Alta revelou que dezenas de agricultores da região das Missões viajam até Rivera para comprar herbicidas para suas lavouras de soja e arroz.


O problema é que muitos desses herbicidas vendidos nas veterinárias uruguaias não têm registro no Ministério da Agricultura do Brasil e sua entrada é proibida. Há suspeita quanto à origem de fabricação e de serem cancerígenos e teratogênicos, ou seja, causar deformações no corpo humano.


fonte:Zero Hora, Porto Alegre - Polícia - 30/06/2002- http://200.213.26.117/editoria/policia/pagina2.htm

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