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Indícios reforçam contaminação em Guaíra, interior de SP

RODRIGO ROSSI, da Folha Ribeirão


Os indícios descobertos em Guaíra (466 km de SP) levam a crer que os três casos de anencefalia registrados na cidade estão relacionados com uma contaminação ambiental.


A afirmação é do coordenador do programa Saúde da Criança da Secretaria de Estado da Saúde, Rui de Paiva, que participou das pesquisas sobre anencefalia feitas em Cubatão nos anos 80. Ele foi indicado pela pasta para falar sobre o assunto à Folha.


"Três casos muito próximos de anencefalia numa cidade como Guaíra levantam a hipótese de que, se houver uma contaminação ambiental, as duas coisas podem estar relacionadas", disse.


Ontem, a Vigilância Sanitária da cidade informou que frequentemente recolhe de matas e acostamentos de rodovias embalagens de agrotóxicos descartadas sem qualquer norma de segurança.


Além disso, até dois meses atrás, Guaíra não tinha um local apropriado para receber produtos tóxicos. Por isso os agricultores da cidade não tinham onde jogar o material.


Esse fato reforça a tese de que as mortes por anencefalia (nascimento de crianças sem cérebro) na cidade podem ter sido causadas por contaminação ambiental provocada por agrotóxicos.


Segundo a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), o conteúdo dessas embalagens pode ter ido parar, com a ajuda das chuvas, no ribeirão Jardim, contaminando a água e, consequentemente, a população.


A Secretaria de Saúde, que avalia a possibilidade de ligação dos três casos de anencefalia registrados com algum processo de contaminação de moradores por agrotóxicos, confirmou a existência do descarte irregular das embalagens.


Guaíra tem uma área agrícola de 85 mil hectares, onde 500 produtores utilizam cerca de 15 mil litros de agrotóxicos por ano.


O gerente da Cetesb Paulo Fogaça informou que o órgão não tem como controlar o descarte irregular de embalagens a não ser por meio de denúncias.


De acordo com o engenheiro agrônomo Renato Garcia Leal, uma central de recebimento das embalagens foi criada em Guaíra e está sendo licenciada.


"A central é importante para que o armazenamento indevido e a queima das embalagens sejam interrompidos", disse.


A própria Cetesb já detectou a presença de substâncias tóxicas na água do ribeirão Jardim. No entanto contraprovas de exames realizados não apontaram quantidades excessivas de substâncias consideradas tóxicas.
Folha Online - Cotidiano Online, 12/07/2002 - 10h31

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