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Agrotóxicos em Minas: 15 milhões de litros/ano*

 

O programa do Governo de Minas Gerais de reciclagem das embalagens de agrotóxicos enfrenta alguns problemas: indústria pressionando o comércio a não recolher; prefeituras que não aceitam ter centrais de depósito em seus limites; e, falta, até aqui, de atrativo econômico para que empresas transformem a reciclagem em um negócio. Essas dificuldades foram reveladas a esta coluna pelo diretor-geral do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Célio Gomes Floriani, após sua participação no XIII Enesco - Encontro Nacional de Educação Sanitária e Comunicação -, quinta-feira, com a palestra 'Fiscalização ambiental na agricultura - as embalagens de produtos fitossanitários'. Célio Floriani não vê, também, interesse das indústrias envasadoras dos produtos agrotóxicos em apoiar o programa. 'A maioria é multinacional. Elas não têm interesse em transferir investimento para o Brasil', avalia o presidente do IMA, que na sua palestra apresentou estatísticas de áreas de plantio e volume de embalagens de agrotóxicos utilizados em Minas.

A reciclagem dessas embalagens, prevista na lei federal aprovada em 1989 e regulamentada pelo Decreto 3.550, de 27 de julho passado (11 anos depois), determina que, após a utilização do produto, elas têm que retornar ao ponto da comercialização. Se for reciclável, a embalagem terá que passar por uma 'tríplice lavagem', caso contrário, receberá um 'destino adequado'. Em Minas, a matéria está na Lei 10.545, de 1991, e regulamentada no Decreto 41.203, de 8 de agosto último.

Com enorme pompa, os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente farão, nesta segunda-feira (4), o lançamento da campanha 'O Brasil joga limpo', voltada para a coleta das embalagens. O programa de Minas não contempla as embalagens dos produtos veterinários. 

Minas tem 4,1 milhões de hectares cultivados com café, milho, soja, hortaliças, etc, além de 1,7 milhão de hectares com reflorestamento. Célio Floriani informou que a aplicação de agrotóxico na agricultura mineira chega a 15 milhões de litros de princípio ativo, sendo 50% inseticidas, fungicidas e acaricidas, e 50% herbicidas. Esse volume todo gera cerca de 15 milhões de embalagens/ano.

Por enquanto, Minas só tem o papel. Ainda não existe a verba. Dos 853 municípios mineiros, pelo programa, 10% receberão 'centrais' de recolhimento das embalagens. O IMA estima que serão gerados cerca de 1 mil empregos. Além das metas de conscientização para os riscos que aquelas embalagens representam - intoxicação das pessoas e contaminação ambiental -, Célio Floriani alertou para a pressão financeira que os acidentes representam: R$ 80 milhões/ano com despesas hospitalares.

Coluna de Nairo Alméri
Baysiston é arma química

Na quinta-feira, no mesmo painel, Sérgio Cabral, o produtor orgânico (hortaliças e laticínios), em sua palestra 'A visão do produtor sobre as questões ambientais', projetou uma transparência de perguntas com título provocativo - 'Meio ambiente: a agricultura faz parte?'

' O que é mais difícil?:
1 - Produzir soja em grande escala sem transgênicos nem herbicidas ?
2 - Produzir 1.500 litros/dia de leite orgânico sem carrapaticida,  antibiótico, hormônio, soda cáustica nem formol ?
3 - Acabar com os piolhos em todas as escolas de BH sem usar venenos  (Pruritrat, Piolhol, Neocid, etc.) ?
4 - Produzir 10.000 hectares de cana (e açúcar) orgânica?
5 - Acabar com as baratas nos restaurantes de Paris, sem usar venenos ?'

Depois de semear seus conhecimentos - de leitura, informações na Internet, participação em seminários, etc. -, ironicamente, ele apresentou suas respostas no subitem de sua palestra - 'III- Soluções ecológicas: a agricultura orgânica'. Sérgio Cabral diz que, de forma intencional, 'cientistas', agrônomos e agricultores 'transformaram-se em simples operários/marionetes das multinacionais do agribusiness'.

Às suas perguntas, se 'será a agricultura orgânica viável?', o ex-técnico do BNDES conta o seu resultado na Fazenda Monte Verde, em Carangola (MG), onde produz 1.500 litros/dia de 'leite orgânico'.

Ao custo per capita de R$ 0,01, ou seja, a R$ 10,00 por 1 mil crianças, a Universidade Federal da Paraíba conseguiu exterminar os piolhos nos colégios. O método foi a aplicação, por uma hora em dois dias, de uma solução saturada de água com sal. 'Se o prefeito de Belo Horizonte quiser, fazemos o mesmo aqui, sem produto químico', desafiou Sérgio Cabral.

Para o plantio extensivo de cana-de-açúcar orgânica (sem herbicida, inseticida ou adubo químico), o conferencistas citou os 10 mil hectares de canaviais das fazendas da Usina São Francisco, no Estado São Paulo. A usina produz o açúcar orgânico Nature, quase 100% exportado para a Europa. 

E sobre o desafio de 'acabar com as baratas dos restaurantes de Paris', Sérgio Cabral disse que isso já está em seus planos. Garantiu que, em Belo Horizonte, em apenas trinta dias, deu solução ao dono de um restaurante que passou vinte anos lutando contra as baratas. 'Acabei com elas sem usar veneno, utilizando álcool'.

'Quanto a produzir soja, milho, hortaliças e frutas decentemente, sem usar agrotóxicos nem transgênicos, cabe aos senhores quererem...', declarou Sérgio Cabral. Ele diz que outro herbicida, além do Roundup, da Monsanto Co., dos Estados Unidos, o Baysiston, da Bayer, e muito usado no Brasil, é classificado como M-74 pela Rússia, ou seja, 'arma química'.

Na campanha dos EUA no Vietnã, a Monsanto teria fornecido dois terços (60%) do 'agente laranja' despejado nas florestas. 'Bill Clinton deveria ter levado ao Vietnã o presidente da Monsanto, para ver o que sua empresa fez', criticou Sérgio Cabral, que exibiu, na transparência, foto da capa de uma revista norte-americana com crianças vietnamitas, netas das vítimas do 'agente laranja', que nasceram com pernas e braços atrofiados.

Carrefour sem agrotóxico

A rede francesa Carrefour de hipermercado tem como meta, para 2004, só oferecer aos clientes verduras e hortaliças orgânicas, segundo o médico-psiquiatra antroposófico, Aloísio Andrade. No XIII Enesco, o médico falou sobre 'O homem no meio ambiente - uma visão integrada', disse que é necessário um entendimento entre ambientalistas e não ambientalistas, porque a briga 'será um suicídio'. E, numa referência ao Brasil, foi objetivo. 'A coisa está preta. Existe alto grau de conhecimento e pouco grau de atitude'. 

Fonte: Hoje em Dia, Belo Horizonte, Sábado 02/12/2000.

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