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Recuperação de espécies silvestres aptas para agricultura biológica

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A intensificação agrícola e homogeneização da paisagem ocorridas no século XX permitiram alimentar populações crescentes e suportar o desenvolvimento urbano nos países desenvolvidos. No entanto, este desenvolvimento ocorreu à custa do abandono de práticas tradicionais e de muitas espécies e variedades que não se adaptavam aos novos sistemas de agricultura.

Segundo a FAO, esta perda de diversidade, associada ao abandono de terrenos marginais, ao envelhecimento da população rural e perda de conhecimento tradicional tem também efeitos na segurança alimentar dos povos e na sua soberania. Este foi o ponto de partida para um inquérito realizado na Catalunha, com vista a identificar plantas comestíveis com potencial para serem recuperadas para cultivo em agricultura biológica.

Os investigadores foram em busca dos anciãos da região para os entrevistarem e acompanharem em busca das espécies silvestres. Os informadores partilharam os seus conhecimentos sobre 137 espécies com usos medicinais ou alimentares. Já os investigadores realizaram ensaios comparativos para avaliar o potencial destas plantas como culturas. As espécies foram avaliadas com base na sua aptidão para cultivo, no seu valor ecológico e no valor de mercado potencial.

Foram escolhidas as 46 espécies com os valores mais altos na avaliação do potencial de cultivo. Estas estão desde 2015 a ser cultivadas experimentalmente de modo a melhor conhecer as suas características e a desenvolver os métodos de cultivo.

As espécies em teste não são estranhas no nosso país. Incluem o alecrim, o orégão, ou o tomilho, que apesar de existirem naturalmente na nossa paisagem, também já são cultivadas. Também se encontram neste grupo espécies cuja recolha no campo é também comum em Portugal, como a beldroega, os espargos ou as amoras silvestres.

Mas também outras espécies conhecidas e pouco exploradas fazem parte deste grupo e podem vir a ter interesse comercial, como é o caso de algumas grisandras, tão próximas que são das famosas rúculas, que hoje em dia são omnipresentes nas secções de saladas dos supermercados.

Este estudo realizado em Espanha não é, no entanto, único. Em todo o mundo se estudam hoje em dia os potenciais de espécies que foram durante séculos importantes na alimentação de populações locais e que foram sendo esquecidas à medida que eram substituídas por culturas industriais e variedades melhoradas e altamente produtivas.

O retorno à exploração destas espécies tem, porém, outros significados: são muitas vezes associadas a alimentação de épocas de escassez e fomes ou apenas vistas como infestantes sem qualquer valor. Será mais fácil criar um interesse por novas espécies alimentares num público urbano do que nas próprias populações rurais que vêm apenas um regresso a um passado de pouco desenvolvimento.

Fonte: Nucleo Agri em 09-08-2016


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