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Pesquisas mostram o equilíbrio pelo alimento orgânico

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O investimento em tecnologias gera aumento de escala e competitividade para o setor, promove a sustentabilidade e torna o consumo mais democrático

Embora o Brasil ocupe a primeira posição do ranking mundial de consumo de agrotóxicos, segundo o Instituto Nacional do Câncer, a produção de alimentos orgânicos tem crescido e se desenvolvido no país. As pesquisas na área e a criação de novas técnicas de cultivo impulsionam um mercado que cresce 20% e fatura R$ 2,5 bilhões por ano, conforme dados do IBGE e Ministério da Agricultura.

Concebida na Índia em 1905, a técnica da agricultura orgânica consiste no cultivo de alimentos da forma mais natural possível, sem o uso de agrotóxicos, máquinas e adubos químicos. Além disso, busca sempre o equilíbrio com a natureza, preservando a terra, as águas, o ar e a fauna da região. Mas para que o setor se coloque no mercado de forma efetiva e atenda às demandas do consumidor, é preciso que aconteça o desenvolvimento de novas tecnologias e inovação, como afirma Fábio Ramos, Engenheiro Agrônomo, sócio-fundador da Agrosuisse e conselheiro do Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis).

Fábio destaca duas formas das pesquisas relacionadas à produção de alimentos orgânicos acontecer. “A primeira tem origem acadêmica, são desenvolvidas pelas universidades e por instituições como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), por exemplo, que possui o Centro Nacional de Agrobiologia. Pelo menos 25 pesquisas sobre a cultura orgânica acontecem na instituição no momento. Além disso, dados do Ministério da Agricultura mostram a expansão da agroecologia e do orgânico na grade curricular de várias escolas de agronomia e ciências agrárias”, conta.

Esse é o caso da startup Flowermind, de Caxias do Sul. Fernando Velho, sócio-fundador da empresa, conta que trabalha há oito anos com administração de resíduos, auto sustentabilidade e logística reversa. “Em um de nossos projetos, a missão era achar alternativas viáveis para o destino de resíduos orgânicos vegetais. Depois de cinco anos de pesquisa, em parceria com o químico e professor da UCS (Universidade de Caxias do Sul) Rodrigo Leygue Alba, conseguimos desenvolver um fertilizante orgânico a partir desses resíduos.”

Hoje em dia, a pesquisa serve como base para o desenvolvimento de fertilizantes específicos para diversas produções, como alho, orquídea, tabaco e grãos. A Flowermind adaptou a técnica para o cultivo de plantas medicinais, visando trabalhar com a agricultura orgânica e tendo o viés social de ajudar pessoas que queiram e/ou precisem cultivar seu remédio natural.

“O grande diferencial é que nossos fertilizantes são auto-sustentáveis, derivados do que antes era resíduo para algumas empresas (como a Ceasa, por exemplo). Através de processos biotecnológicos, conseguimos deixar toda essa matéria orgânica totalmente assimilável para a planta, como se fosse o húmus naturalmente encontrado em solos virgens. Diferente de fertilizantes convencionais encontrados no mercado, que são químicos e degradam o solo, nosso fertilizante acrescenta vida e estimula todos os microrganismos ali presentes a se desenvolverem e melhorarem a qualidade desse solo”, explica Fernando.

A segunda forma que as pesquisas da área de orgânicos se desenvolvem, segundo Fábio, é a que acontece a partir da prática?—?ou seja, oriundas de comunidades e dos povos que já fazem uma agricultura sustentável há muitos anos. “Diversos casos no Brasil mostram isso, principalmente nas regiões norte e nordeste, onde tem muito extrativismo, e no centro-oeste também, onde a tecnologia e a pesquisa foi inicialmente gerada através das comunidades” conta.

a produção orgânica de barras de cereais, sucos de frutas, chocolates, leite e derivados, com diversos tipos de queijos. “Então você também tem um movimento de inovação que permeia pelo segmento agro-industrial. Além disso, as tecnologias possibilitam que cada vez mais os produtos orgânicos possam ser produzidos em larga escala, como é o caso da cana de açúcar, do cacau, do milho, da soja?—?até o leite e o frango e algumas hortaliças”, enfatiza o engenheiro agrônomo.

O cenário brasileiro

O diretor e um dos fundadores do Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), Cobi Cruz, afirma que hoje existe produção de orgânico no Brasil inteiro. “Prefiro falar em biomas do que estados, então se destaca o açaí e castanhas do Brasil na Amazônia. Café, açúcar e castanhas no Cerrado. Mel e castanhas de caju na Caatinga. Trigo, azeites, palmito e erva mate na Mata Atlântica. Carne no Pantanal. Arroz nos Pampas. Leite e derivados em quase todos os biomas e frutas e hortaliças em todos os biomas”.

O Sudeste é a região com maior área de produção orgânica, segundo dados de 2016 da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO). Na sequência, aparecem as regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul. Por estado, Paraná, Mato Grosso e Pará são os que têm mais relevância, seja por número de produtores, por área ou por extrativismo.

A lei brasileira conta com uma normatização que regula a produção orgânica. Na Lei Nº 10.831/03, fica estabelecido que, para que possam comercializar seus produtos no Brasil como “Orgânicos”, os produtores devem se regularizar de duas formas: ou obtendo certificação por um Organismo da Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC) credenciado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento?—?MAPA; ou se organizando em grupo e fazendo um cadastramento junto ao MAPA para realizar a venda direta sem certificação.

O consumo de orgânicos no país
A cada dois anos, o Organis realiza uma pesquisa de mercado para entender o comportamento do consumidor e trazer informações para um setor tão carente de números. A última, realizada em 2017, diz que:

- 15% da população urbana consumiu algum alimento ou bebida orgânico no último mês.

- Na região Sul é onde se encontra a maior incidência de consumo de produtos orgânicos.

- Alface é o alimento mais consumido (1 em cada 3 consumidores), seguido pelo tomate (1 em cada 5) e verduras no geral. Arroz, rúcula, banana, frutas e sucos, assim como maçã, brócolis e legumes têm participação importante na cesta dos consumidores.

- Legumes no Sul / Frutas no Nordeste / Cereais no Sudeste.

“Apesar de mais caro, e não sem motivo, o consumo de orgânicos está cada vez mais democrático, principalmente nas mais de 700 feiras que existem em todo o Brasil, onde o preço de um orgânico é muito similar ao preço de um produto convencional no supermercado. Obviamente que tem produtos, principalmente os processados, que ainda são muito mais baratos. Mas com tecnologia, aumento de escala e competitividade, a tendência é baixar o custo dos alimentos orgânicos cada vez mais”, finaliza Cobi.

Fonte:Vanessa Souza

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