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Produção de ovo caipira e orgânico é viável, mas depende de tecnologia

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A partir da comparação do mercado e da viabilidade econômica de três sistemas de produção de ovos de galinha (tradicional, orgânico e caipira), a pesquisadora Isis Pasian, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, constatou que os métodos que se preocupam mais com o bem-estar animal, como o orgânico e o caipira, são viáveis economicamente. Porém, é necessário desenvolver tecnologia para estes dois sistemas a fim de torná-los competitivos.

"Como a demanda é muito grande, ainda não é possível abandonar o sistema tradicional de produção de ovos", conta a médica veterinária. Outra constatação da pesquisadora é que o consumidor final desconhece as diferenças entre os métodos de produção. "No sistema tradicional as aves ficam confinadas em gaiolas suspensas, podem apresentar problemas nas patas por pisarem apenas nas grades das gaiolas, dificilmente tomam sol e têm um espaço de movimentação equivalente a uma folha de sulfite. O consumidor também desconhece que no sistema tradicional são usadas as técnicas da debicagem e da muda forçada", diz.

Ela explica que a debicagem consiste em cortar a porção final do bico das aves para elas não machucarem umas às outras, o que pode ocorrer em situações de estresse. Outra razão para o uso desta técnica, segundo a pesquisadora, é que quando o bico não é cortado, a ave escolhe apenas os grãos que quer comer; já com o corte do bico, ela come a ração que lhe for oferecida como um todo. "A debicagem é um procedimento que causa dor ao animal", aponta. O método de criação caipira também pode utilizar essa técnica; já no orgânico, ele é totalmente proibido.

Outro procedimento usado no sistema tradicional é a muda forçada. Ela é feita quando a ave diminui a produção de ovos, em geral, quando a poedeira está com uma idade entre 60 a 70 semanas. A técnica consiste em restringir o alimento do animal, com a finalidade de se obter um novo ciclo de produção de ovos. No entanto, esse procedimento também agride o bem-estar da ave, pois a deixa sem alimento por um determinado período de tempo. "A muda existe naturalmente na natureza, mas como demora muito para acontecer, os produtores preferem não esperar por ela, pois não é viável economicamente visto que a ave ficará muito tempo sem produzir ovos", explica.

PREÇOS

Para realizar o trabalhou, Ísis analisou a legislação vigente sobre os três métodos de produção e visitou 6 granjas localizadas no estado de São Paulo, sendo 2 duas do sistema tradicional, 1 do caipira e 3 do orgânico. Ela também pesquisou preços desses produtos em supermercados e entrevistou consumidores.

Isis aponta que, atualmente existem nichos de mercado dispostos a pagar mais caro por ovos orgânicos e caipiras. "A tendência é que ocorra uma diminuição no preço do ovo orgânico, o mais caro dos três, cujo preço é de três a cinco vezes maior que o tradicional", afirma. O ovo caipira ocupa a segunda posição no quesito preço. "Para o produtor, é o ovo mais lucrativo dos três. Tem um preço médio que é dobro do convencional, porém sua produção em larga escala é mais difícil", diz. Uma granja do sistema tradicional de médio porte tem cerca de 200 mil aves. Já uma do método caipira tem cerca de 6 mil animais. No orgânico, são criadas, em média, cerca de 3 mil poedeiras.

De acordo com Isis, os ovos produzidos no método orgânico são os mais caros devido à ração usada: o milho e os outros ingredientes devem ser orgânicos, ou seja, deve ter sido produzido sem agredir ao meio ambiente. As galinhas são criadas em galpões e têm um espaço livre para pastagem, ao ar livre, de cerca de 4 metros quadrados (m2) por ave. Já no método caipira, é sugerida uma área de 1 m2 por ave. No método tradicional, podem ser utilizados pigmentantes sintéticos para dar um tom mais acentuado às gemas. No orgânico e no caipira apenas é permitido a utilização de corantes naturais na ração, como o urucum e a páprica. Além disso, no orgânico, é proibido o uso de antibióticos na criação, salvo situações extremas, dando-se sempre preferência ao tratamento com homeopatia.

MITOS

Entre os mitos sobre o assunto que a pesquisadora encontrou entre os 140 consumidores entrevistados, estão: o suposto uso de hormônio nas aves e que o ovo caipira seria mais "forte". "Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, as granjas não utilizam hormônio nos animais. São usados apenas antibióticos promotores do crescimento com a finalidade de equilibrar a flora intestinal", esclarece. Quanto aos ovos, ela informa que o valor nutricional é igual nos três métodos de produção. Outro mito é que todo ovo de casca marrom é caipira. "A cor da casca do ovo tem relação com a raça da galinha. Nada impede que existam ovos caipiras de casca branca", esclarece.

Isis comenta que, na União Européia, até 2012, haverá a proibição do uso de gaiolas convencionais na criação de galinhas poedeiras. "Com o passar do tempo, o sistema tradicional brasileiro precisará se adequar às novas legislações que estarão surgindo", comenta. Ela acredita que é fundamental que os consumidores saibam as diferenças entre os três sistemas de produção. "Ele deve ter conhecimento da existência e do uso de técnicas como a debicagem e a muda forçada para que possa refletir a respeito", finaliza.

A pesquisa de iniciação científica de Ísis foi realizada entre 2006 e 2007 sob orientação do professor Augusto Hauber Gameiro, do Departamento de Nutrição e Produção Animal (VNP) da FMVZ e teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

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Fonte:Agência USP de Notícias por Valéria Dias - Jornalista em noticias :26/12/2008

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