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organismos Geneticamente Modificados - Transgênicos 

Mensagens Publicadas em 18/12/2000

 

Múltis preparam nova geração de transgênicos
 
São Paulo, 18 de dezembro de 2000 - Nos laboratórios de grandes multinacionais como DuPont, Aventis,Basf e Monsanto, uma nova classe de alimentos está em gestação. São as plantas transgênicas de segunda geração: 
arroz e canola enriquecidos com betacaroteno; milho e tabaco com hormônio do crescimento; soja com menor teor de colesterol.

Diferente da primeira e controvertida leva de transgênicos, que se limitava a sementes modificadas geneticamente para resistir melhor a insetos e a herbicidas, o impacto dessa nova família irá além da lavoura. 
Agregando benefícios para a saúde, será mais bem percebida pelos consumidores.

Os primeiros produtos da Aventis devem chegar ao mercado até 2006. A multinacional aposta nos carboidratos modificados, que produziriam farinhas com menos calorias e massas mais crocantes.

Entre outras linhas de pesquisa, a alemã Basf trabalha para aumentar a concentração de ácidos graxos, como o ômega 3, em grãos. Para estudar possíveis modificações no código genético de trigo, milho, canola, soja e 
batata, a empresa conta com orçamento de US$ 590 milhões a ser investido nos próximos dez anos, informou Stefan Marcinowski, membro da junta diretiva e responsável pela pesquisa e desenvolvimento mundial da Basf.

A Monsanto, como a Aventis, participou ativamente da primeira geração dos transgênicos. A empresa financiou o seqüenciamento do genoma do arroz e atualmente trabalha no enriquecimento do valor alimentício da canola e da mostarda.

'Na primeira geração, o benefício estava ficando no campo. Agora, está sendo levado para a mesa do consumidor', compara Ricardo Vellutini, vice-presidente de produtos agrícolas da DuPont América do Sul. Dispondo de US$ 1 bilhão por ano, o foco da empresa em transgênicos está na pesquisa 
para modificar o teor de óleo da semente da soja.

No Brasil, a Unicamp e a Universidade Federal de Minas Gerais, bem como a Embrapa e o Instituto Butantan, desenvolvem plantas e lactobacilos transgênicos para produzir hormônio de crescimento e vacinas contra 
leishmaniose, hepatite e pneumonia. Como os alimentos, as vacinas transgênicas devem chegar às prateleiras das farmácias entre cinco e dez anos. (ver editoria Empresas & Carreiras) (Laura Knapp e José Alberto 
Gonçalves)
 
Gazeta Mercantil, 18/12/2000 - Primeira Página

Laboratórios pesquisam o alimento do futuro
 - Resguardado das controvérsias apaixonadas que envolvem os transgênicos, um futuro promissor fervilha nos 
laboratórios de institutos de pesquisa e de potências transnacionais, como DuPont, Basf, Aventis, Bayer e Monsanto. É uma nova geração de plantas geneticamente modificadas. Ao contrário da primeira batelada, restrita a sementes resistentes a herbicidas e insetos e com ganhos que atingiam quase só os produtores, essa linhagem agrega benefícios diretos ao consumidor final.

Arroz e óleo de canola enriquecidos com betacaroteno, soja com menor teor de colesterol, milho e tabaco com hormônio do crescimento são alguns exemplos. Dos laboratórios sairão também vegetais que produzem vacinas ou que ajudam o organismo a combater moléstias como hepatite, câncer e infecções respiratórias.

A DuPont testa, no momento, uma extensa variedade de opções, a grande maioria a partir de soja e milho, nos dois grandes laboratórios de biotecnologia que mantém nos Estados Unidos, em Wilmington, Delaware, e em 
Desmoines, Iowa. Entre as grandes apostas, uma soja modificada para que seu óleo tenha as mesmas qualidades do azeite de oliva, diz Ricardo Vellutini, vice-presidente de produtos agrícola da DuPont América do Sul.

Nos últimos anos, a DuPont investiu mais de US$ 14 bilhões na aquisição de empresas de biotecnologia, como a Pioneer e a PTI. Anualmente, a multinacional destina US$ 1 bilhão para pesquisa e desenvolvimento, dos 
quais cerca de 60% diretamente nessa área. Além de alimentos, a DuPont estuda biomateriais, como o poliéster, já no mercado, com meia molécula feita a partir de derivados de petróleo, e outra meia com amido de milho.

Passar do mercado de petróleo para a biotecnologia é estratégico. 'É uma transição fundamental', afirma Vellutini. Às vésperas de completar 200 anos, em 2002, não seria a primeira vez que a DuPont, que começou como fabricante de explosivos, redireciona sua trajetória. 'É difícil dimesionar o impacto total, mas certamente a biotecnologia exercerá influência sobre todos os negócios, em todo o mundo,' prevê o vice-presidente.

Nos alimentos, o foco da empresa são os nutracêuticos, produtos com um ganho ou vantagem em relação à geração anterior, principalmente com valor nutricional ampliado. 'Na primeira geração, o benefício estava 
ficando no campo. Agora, está sendo levado para a mesa do consumidor', compara Vellutini.

Novas fórmulas e aplicações na alimentação e saúde humana não param de surgir. Mas a segunda geração de transgênicos só deve chegar às gôndolas dos supermercados, ou aos balcões das farmácias, dentro de cinco anos, nas previsões mais otimistas.

A Aventis, por exemplo, deve lançar entre 2005 e 2006 seus primeiros produtos de plantas alteradas geneticamente, segundo André Abreu, gerente de desenvolvimento de negócios de biotecnologia da empresa no Brasil. Ainda na fase de pesquisa básica em seus laboratórios da Alemanha, Bélgica e França, os futuros produtos da Aventis concentram-se no desenvolvimento de carboidratos modificados, para servir como matéria-prima de farinhas que engordem menos, macarrões mais crocantes e pães mais digeríveis ou que 
permaneçam macios por um período mais longo.

Outra área estratégica para a Aventis, companhia formada pela fusão da alemã Agrevo (joint-venture entre Hoechst e Schering) com a francesa Rhône-Poulenc, é a proteção de plantas. 'Esperamos oferecer aos
agricultores plantas que dependam menos de São Pedro e de fertilizantes', diz Abreu. O foco de investigação são vegetais modificados para resistir a intempéries, como seca, ou adaptar-se mais facilmente a solos hostis ao 
desenvolvimento agrícola.

Entre 10% e 11% do faturamento anual da Aventis Crop Science são investidos em pesquisa. Destes, boa parte fica com a biotecnologia, diz André Abreu, gerente de desenvolvimento de negócios de biotecnologia da 
empresa no Brasil. Ele prefere não precisar o volume exato de recursos destinados à área. Entre as culturas de maior interesse comercial estão algodão, milho, soja e trigo. Abreu diz que ainda não se conseguiu mensurar 
o retorno que os futuros alimentos da segunda geração de transgênicos dará às empresas. 'Trata-se de um mercado desconhecido, bastante segmentado e extremamente complexo.'

As pesquisas da Monsanto em biotecnologia vegetal centram-se basicamente nas mesmas culturas: milho, soja, algodão e trigo. Mas a empresa também investiga, ou pelo menos colabora na investigação, de 
enriquecimento de canola, arroz e mostarda. Em associação com a Universidade de Michigan, nos EUA, e o indiano Tata Energy Research Institute (Teri), a multinacional trabalha no desenvolvimento da mostarda 
dourada, cujo óleo apresenta alto teor de betacaroteno. Convertido pelo organismo humano em vitamina A, o betacaroteno ajuda a combater doenças como cegueira noturna, diarréia, distúrbios respiratórios e complicações advindas de doenças infantis como o sarampo, de acordo com a empresa.

Segundo dados fornecidos pela Monsanto, a Organização Mundial de Saúde estima que cerca de 250 milhões de pessoas sofram de doenças em função de deficiência de vitamina A. Na Índia, pelo menos 18% das crianças apresentam carência desse nutriente. Uma colher de chá de óleo com o nível de vitamina A que a empresa conseguiu reproduzir em experimentos de campo satisfaz as necessidades diárias de um adulto, de acordo com a Monsanto.

Com orçamento para P&D da ordem de 8% a 10% de seu faturamento, que chegou a US$ 9 bilhões em 1999, a Monsanto também desenvolveu um arroz com alto nível da mesma vitamina. E, em conjunto com pesquisadores do Quênia, uma batata doce resistente a vírus

A alemã Basf destinará, nos próximos dez anos, cerca de US$ 590 milhões para pesquisas em biotecnologia. São dois os focos principais: a descoberta de catalisadores, ou biorreatores, que podem ser utilizados na 
cadeia de produção química, e plantas transgênicas. Em princípio, deve trabalhar para agregar propriedades nutritivas aos vegetais, ou aumentar sua resistência a fim de que sobrevivam melhor a condições climáticas
adversas, como clima seco ou muito frio.

Numa primeira fase, os estudos com transgênicos vão se restringir a dois fronts. O primeiro é a busca pelo gene capaz de fazer com que as plantas resistam melhor à escassez de água. O segundo, a subtração de óleos 
ou a adição de ácidos graxos, como o ômega 3, que ajudam o ser humano a combater doenças do coração. Os primeiros vegetais a serem estudados devem ser trigo, milho, canola, soja e batata. As pesquisas serão feitas em um laboratório que a multinacional inaugurou no final de setembro em Berlim. Para entrar na era do genoma, a multinacional associou-se à sueca Svälof Weibull, fabricante de sementes, formando a Basf Plant Sciences.

'Estamos convencidos de que a biotecnologia vai mudar várias atividades e ramos de negócios de hoje', disse Stefan Marcinowski, membro da junta diretiva e responsável pela pesquisa e desenvolvimento mundial da 
Basf, em recente visita ao Brasil. Quanto ao retorno dos investimentos, prefere ser cauteloso. 'Não posso dizer porque não sei'.

Para os fabricantes de sementes e para os agricultores, a biotecnologia abre a oportunidade de agregar valor a seus produtos. De maneira geral, não há grande diferença entre uma saca de arroz e outra saca de arroz. Mas quando o grão tiver características diferentes, fornecer mais vitamina A ou engordar menos, certamente seu preço também será diferente. 'Talvez assim consigamos descomoditizar o mercado', espera Vellutini, da 
DuPont.
 (Gazeta Mercantil/Páginas C1 e C2) (Laura Knapp e José Alberto 
Gonçalves), São Paulo, 18 de dezembro de 2000

Transgênico poderá ser usado como medicamento
 
Várias vacinas e hormônios humanos, obtidos por meio de plantas transgênicas, estão sendo estudados em universidades e instituições brasileiras de pesquisa. Utilizando a técnica do DNA recombinante, pela qual genes são inseridos em células vegetais para que fabriquem determinadas proteínas, os cientistas trabalham para produzir milho com hormônios de crescimento e insulina, lactobacilos com vacina contra brucelose, pneumonia e tuberculose, e alface para combater o vírus da hepatite.

A biofábrica transgênica do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) da Universidade de Campinas (Unicamp) tem sido bem sucedida no desenvolvimento de tabaco e milho contendo hormônio de 
crescimento (hGH). Investiga, nesta fase, se o hormônio produzido pelas plantas é idêntico ao processado pelo organismo humano. 'Quanto mais semelhantes, menor a necessidade de testes e mais concreta a possibilidade 
de licenciamento da tecnologia,' diz o coordenador Adilson Leite.

Atualmente, o hGH é produzido por bactérias. Com a obtenção do composto em plantas, será possível fabricá-lo em larga escala e a custos reduzidos. 'Bastaria uma área do tamanho de um campo de futebol para 
produzir uma tonelada de milho, suficiente para tratar cerca de mil crianças com problemas de crescimento', explica Leite

A fim de estudar a possibilidade de a soja e o feijão também produzirem o hGH, Leite associou-se há pouco mais de um ano ao cientista Elíbio Rech, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (conhecida como 
Cenargen). Cerca de 500 plantas de soja e 50 de feijão serão analisadas no próximo ano para checar quais vegetais melhor expressam o gene introduzido em suas células. 'A idéia é averiguar que plantas transgênicas produzem hGH em altos níveis', diz Rech. Daqui a um ano, prevê, será possível conhecer 
melhor o processo de produção de hormônio em plantas de soja e feijão. 'Precisamos usar vegetais de sementes grandes, com boa capacidade de acumular proteína.'

Outra pesquisa com transgênicos realizada por Rech, associado a um grupo do departamento de bioquímica e imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), visa o desenvolvimento de vacinas contra a 
leishmaniose em alface e batata. 'Vamos injetar vacina extraída dos vegetais em camundongos, no ano que vem, para verificar se os animais serão realmente imunizados', informa o pesquisador.

Se tudo correr como o planejado, dentro de cinco ou seis anos campos de cultivo mantidos pelos centros de pesquisa poderão estar produzindo alface e batata também com vacinas contra a hepatite B, a diarréia e 
doenças pulmonares.

As plantas não são os únicos veículos utilizados na obtenção de vacinas por modificação genética. A equipe coordenada por Luciana Leite, doInstituto Butantan, em São Paulo, trabalha para produzir uma vacina contra 
pneumonia a partir de lactobacilos, encontrados no leite. O projeto do Instituto Butantan teve início em novembro. Os R$ 400 mil necessários para seu desenvolvimento serão financiados pela Fundação de Amparo 0à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Além da expressão do gene no lactobacilo, outras abordagens envolvem sua inserção na vacina de BCG (contra tuberculose), em uma vacina conjugada de polissacarídeo, e a elaboração de uma vacina de DNA, onde o gene a proteína seria injetado na célula humana, passando as informações necessárias para que o organismo humano passasse a produzir a proteína e, assim, induzisse à resposta imune.

No departamento de biologia geral da UFMG, o médico-veterinário Vasco Azevedo coordena o desenvolvimento de vacinas contra a brucelose também em bactérias lácteas, como lactobacilos e lactococos. O estudo é promovido em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica (Inra), da França, e financiado pelos ministérios da Educação brasileiro e francês, no valor de US$ 40 mil. A brucelose é uma doença causada pela bactéria brucela em bovinos, que também afeta o ser humano, e pode levar à 
morte.

'Esperamos que as vacinas estejam à disposição do sistema de saúde dentro de cinco a dez anos', diz Azevedo. Ele sonha com a possibilidade de oferecer um coquetel de vacinas, além da que combate a brucelose, num copo de iogurte. Uma das principais vantagens da produção de vacinas em lactobacilos é que as bactérias lácteas são inofensivas ao ser humano.

Se o futuro transgênico se tornar realidade, as biofábricas seriam inicialmente restritas a lavouras controladas, confinadas em centros de pesquisa. Hormônios e vacinas deverão ser aprovados pelo Ministério da 
Saúde como qualquer outro fármaco, e estariam à venda nas farmácias ou disponíveis em hospitais ou centros de saúde. 
 
(Gazeta Mercantil/Página C2) (José Alberto Gonçalves e Laura Knapp)

Bayer aposta em parcerias
A Bayer vai participar do mercado da segunda geração dos transgênicos por meio de parcerias com empresas de genética, desenvolvendo agroquímicos para esses vegetais, mais eficientes e menos agressivos ao meio ambiente. Não faz parte de sua estratégia desenvolver plantas modificadas.

Segundo Jean-Pierre Longueteau, diretor da divisão de proteção de plantas na América Latina, as companhias de genoma são estratégicas na obtenção de pesticidas para serem usados em plantas convencionais e 
transgênicas.

A companhia alemã investiu 200 milhões de euros (US$ 175,5 milhões) desde 1998 em acordos com empresas desse setor, para produzir agrotóxicos por meio da cópia do código genético de plantas e fungos. Uma das principais alianças foi estabelecida com a Exelixis Pharmaceuticals Inc., da Califórnia, com a qual a Bayer formou a Genoptera, que localiza genes na mosca-das-frutas.

O genoma de outra doença, a 'corn smut', foi seqüenciado pela Bayer, junto com LION Bioscience, uma das líderes mundiais em bioinformática, de Heidelberg, na Alemanha. No momento, em colaboração com a Universidade de Munique, a Bayer identifica genes da doença para serem copiados quimicamente.

Cética em relação à primeira geração de transgênicos, a Bayer preferiu manter-se isolada da onda de aquisições de empresas de sementes nos anos 80 e 90. 
(Gazeta Mercantil/Página C1) (José Alberto Gonçalves)

DIMENSÕES POLÍTICAS DOS TRANSGÊNICOS
 
A polêmica atualmente suscitada pelos alimentos transgênicos, em vários países do mundo, ultrapassa a fronteira das discussões dos efeitos testados e presumidos desses produtos sobre a saúde humana e o meio 
ambiente. Com efeito, perpassando as suas dimensões mais visíveis, no que tange às repercussões dos produtos da engenharia genética nos planos da ética, do meio ambiente e da saúde humana, o núcleo do tema 
obrigatoriamente nos impõe à reflexão, inclusive, referente às tendências da configuração do poder político no mundo.

Sem dúvidas, caso os enormes interesses econômicos em jogo consigam se impor às resistências da cidadania pelas indispensáveis cautelas, em todos os planos, da utilização dessas tecnologias nos vários 
ramos industriais, a alimentação e a saúde da população mundial estarão, cada vez mais, na dependência de um reduzido número de grandes conglomerados econômicos dos países desenvolvidos.

Nesse quadro, países como o Brasil estarão virtualmente condenados ao atraso científico e tecnológico e à dependência externa em setores estratégicos para os interesses nacionais, o que, por via de conseqüência, tende a comprometer o futuro do País e ampliar a sua população miserável.

Assim, na hipótese acima, será acentuado o já profundo fosso econômico entre países ricos e pobres. Mais do que nunca, o suposto liberalismo econômico e o processo de globalização se firmarão como instrumentos de consagração da hegemonia política absoluta dos países desenvolvidos.

Diante desse cenário tão desolador para os países do terceiro mundo, cabe à sociedade civil organizada ampliar e diversificar suas formas de resistência ao avanço incondicional e sob o controle externo da 
aplicação (especialmente na indústria farmacêutica e na agricultura) de produtos e insumos derivados de tais tecnologias. Especificamente no caso brasileiro - e tomando-se como exemplo a questão dos produtos agrícolas transgênicos -, a submissão do País nesse processo conta com o apoio irrestrito do governo Fernando Henrique Cardoso. Pois, no bojo do suposto processo de modernização econômica, o governo criou o ambiente institucional que possibilita a expansão interna dos interesses dos grandes laboratórios e dos grupos multinacionais da química e da biotecnologia, por meio de legislações relativas a patentes e à proteção de cultivares, assim como pela adesão aos acordos da Organização Mundial do Comércio (OMC) e de 
entidades de representação dos grandes conglomerados do setor, a exemplo da União Internacional para a Proteção e a Obtenção de Organismos Vegetais (Upov).

Todavia, inclusive alimentados pela crescente aversão dos consumidores europeus (e mais recentemente dos Estados Unidos) aos produtos transgênicos, o que tem valorizado economicamente os alientos convencionais - os orgânicos, destacadamente - , a resistência da sociedade organizada, no Brasil, envolvendo consumidores, produtores, setores dos poderes públicos, técnicos e outros segmentos da população, vem conseguindo 
se contrapor à postura servil do governo FHC.

Com o governo do PT no Rio Grande do Sul, o Brasil passou a se constituir do ponto de vista internacional um território de luta contra a liberação sem critérios dos transgênicos, e assim servindo a outros países de exemplo e estímulo à resistência.

Portanto, engrossar a luta pela moratória dos transgênicos, no Brasil, tem um significado político que extrapola as fronteiras da cidadania e dos interesses nacionais. Pode representar fenômeno de relevância para o enfrentamento do poder econômico e dos seus pressupostos políticos dos países do terceiro mundo que ainda ousam sonhar com um futuro mais soberano, digno e justo.
 
(publicado no Jornal do Brasil em 13 de julho de 2000

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