Teste brasileiro identifica soja transgênica
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Teste brasileiro identifica soja transgênica

Um teste genético desenvolvido no Brasil contribui para distinguir soja geneticamente modificada de plantas, grãos e derivados normais. Criado por pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, o exame identifica o gene de bactéria que torna a soja resistente ao herbicida glifosato. Trata-se do gene usado na soja Roundup Ready, da Monsanto, que responde hoje por boa parte da produção argentina e americana do grão. No Brasil, a soja transgênica resistente ao glifosato continua proibida por decisão da Justiça, que exigiu da empresa a realização de um estudo de impacto ambiental. O novo exame, o primeiro do gênero desenvolvido no Brasil, é baseado na técnica de Reação de Polimerase em Cadeia (PCR, na sigla em inglês). A PCR é extensivamente usada em vários tipos de análise genética. Mas ainda não havia no Brasil um exame assim para identificar soja transgênica. O teste amplifica milhões de vezes uma amostra de material genético, permitindo que mesmo quantidades muito pequenas de DNA sejam analisadas. O resultado sai em três dias. Os pesquisadores do Instituto de Biotecnologia Aplicada à Agropecuária da universidade (Bioagro) conseguiram desenvolver uma sonda - uma espécie de sinalizador feito de DNA - específica para o gene RR de uma estirpe da bactéria Agrobacterium. Esse é o gene "estrangeiro" (de outra espécie) inserido no DNA da soja resistente a herbicida. A soja Roundup Ready com o gene RR não morre ao entrar em contato com o veneno. Maurilio Alves Moreira, um dos criadores do teste, disse que o exame pode detectar o gene em qualquer produto derivado de soja, desde que seja possível extrair DNA. Segundo ele, mesmo na lecitina de soja usada em massas e biscoitos, por exemplo, é possível detectar a modificação genética. O teste, segundo Moreira, está em uso desde novembro passado. Ele tem sido procurado por grandes empresas processadoras de soja, como a Nutrimental e a Seara. Outros clientes são empresas que fazem inspeção de navios com carregamentos de soja. - Nossos clientes são exportadores que precisam ter certeza de que seu produto não está contaminado por material transgênico. A maioria tem como clientes países europeus que não aceitam soja transgênica - disse Moreira. Atualmente, países da União Européia recusam soja que tenha até 1% de contaminação com transgênico. A restrição pode chegar a até 0,01% de contaminação, dependendo do derivado de soja. - Só um teste genético pode oferecer esse nível de precisão - observou Moreira. O laboratório de Viçosa já testou cerca de cem amostras, e Moreira estima que pelo menos 20% delas apresentaram contaminação por soja transgênica. Quase todas as amostras contaminadas saíram do Rio Grande do Sul. - As amostras do Centro Oeste e do Paraná não continham material transgênico. Mas as do Rio Grande do Sul, por onde entra muita soja argentina, por vezes apresentam contaminação - acrescentou o cientista.
O Globo, Quinta-feira, 1º de junho de 2000
 

Seminário debate os transgênicos

Um grupo de parlamentares e representantes de ONGs assinou ontem manifesto pela moratória para o cultivo e comercialização de alimentos transgênicos no país. O manifesto foi lançado durante o seminário "Alimentos Transgênicos Aliança Internacional pela Moratória", que marcou a instalação do escritório da Fundação Heinrich Boll (ligada ao PV alemão) no Rio. Os signatários pedem a suspensão imediata de qualquer ação para legalizar a entrada dos organismos geneticamente modificados (OGM) no Brasil, com base no Protocolo de Biossegurança de Montreal. O objetivo do manifesto é evitar que as brechas na legislação brasileira permitam que programas de OGM sejam plantados no país. Entre os signatários do documento, estão os deputados federais Fernando Gabeira (PV-RJ), Pompeo de Mattos (PDT-RS), Saulo Pedrosa (PSDB-BA), o secretário de Agricultura e Abastecimento do Rio Grande do Sul, José Hermeto Hoffman, e o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile. "Sem a pressão da sociedade civil, os OGMs já teriam se disseminado no país há muito tempo", disse Marijane Lisboa, representante do Greenpeace. A empresa americana Monsanto, uma das líderes no comércio de sementes GM, chegou a obter um parecer favorável da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para o cultivo da soja RoundUp Ready, variedade da planta resistente a um tipo de agrotóxico, mas foi detida por uma ação do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), deferida em primeira instância. "As grandes empresas de biotecnologia se aproveitam do falta de informação das pessoas sobre esse tema para avançar", afirmou o deputado Pompeu de Mattos. "E esse avanço é irreversível", completou. O manifesto, que estará disponível para adesões no endereço http://www.ibase.br partir de segunda-feira, pede a análise dos riscos ambientais antes de se plantar qualquer variedade vegetal GM no país. A legislação atual faculta à CNTBio o direito de encomendar ou não a análise. De acordo com o deputado alemão Wolfgang Kreissel-Dörfer, do Parlamento Europeu, a questão dos transgênicos é ainda mais grave em países em desenvolvimento como o Brasil. "Quando se tem uma população grande de famintos, fica muito mais fácil se render aos alimentos propagandeados pelas empresas de biotecnologia como sendo melhores e mais nutritivos", alertou. Na Europa, ao contrário, a rejeição aos transgênicos é crescente. "Estudos mostram que 80% a 90% dos alemães rejeitam os OGM", disse o representante do Instituto da Pesquisa Aplicada ao Meio Ambiente, na Alemanha, Svend Ulmer. A legislação comum à União Européia obriga que os alimentos com mais de 1% de OGM carreguem a informação no rótulo. Para o líder do MST, João Pedro Stédile, o Brasil deve garantir a "soberania alimentar" (controle sobre a produção de alimentos) vetando completamente a entrada dos transgênicos. "Depois que a Revolução Verde fracassou, querem implantar o modelo americano no país", afirmou. "Isso é típico de um governo que não está interessado no pequeno produtor."
Jornal do Brasil, Quinta-feira, 1º de junho de 2000
 
Stedile ameaça destruir culturas de transgênicos
 
Líder do MST diz que plantações clandestinas de soja e arroz foram incendiadas no RS LUCIANA NUNES LEAL RIO - O Movimento dos Sem-Terra (MST) ameaça incendiar plantações clandestinas de alimentos transgênicos. O alerta partiu ontem de seu coordenador nacional, João Pedro Stedile, durante um seminário internacional sobre alimentos produzidos artificialmente. "Onde encontrarmos plantações ilegais de transgênicos vamos tacar fogo" disse. "Tomamos essa decisão no encontro com mais de 1.200 pessoas no Rio Grande do Sul e já destruímos várias lavouras de soja e uma de arroz que usavam transgênicos." Stedile acredita que o combate aos transgênicos deve, obrigatoriamente, ser acompanhado, no Brasil, da "luta contra a política agrícola" do governo. "Só vamos conseguir lutar contra os transgênicos quando enfrentarmos as empresas multinacionais que querem impor esses produtos", afirmou. Antes do debate sobre segurança alimentar, Stedile participou de um seminário na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele denunciou que estão grampeados os telefones dos principais escritórios do MST. "Em todas as secretarias estaduais há escuta telefônica", declarou diante de uma platéia de 200 estudantes e professores universitários. Ele atribuiu os grampos aos serviços de inteligência do governo federal e dos Estados. "Isso é inconstitucional." Segundo Stedile, os líderes evitam falar de assuntos sigilosos por telefone. "Já estou contando piada para divertir os que estão ouvindo", ironizou.
O Estado de São Paulo. Quinta-feira, 1 de junho de 2000
 
Colza GM assusta UE BRUXELAS
 
Os governos da União Européia estão estudando a adoção de medidas de urgência para evitar a venda e o plantio acidental de sementes transgênicas. A UE quer impedir a repetição do ocorrido recentemente na Grã-Bretanha, Suécia, França, Alemanha e em Luxemburgo onde colza geneticamente modificada (GM) foi importada por engano do Canadá misturada a sementes tradicionais. Esta semana, a comissão permanente de sementes e materiais de propagação na agricultura, horticultura e bosques da UE se manifestou favorável à adoção de medidas provisórias, enquanto se elabora uma legislação definitiva sobre as sementes transgênicas, e sugeriu testes para impedir a repetição da importação acidental. No início do ano, a UE fixou o mês de dezembro deste ano como prazo máximo para a apresentação de propostas sobre rotulagem de produtos derivados de sementes geneticamente modificadas e sobre como alertar os consumidores para a possibilidade de contaminação das sementes convencionais. Em vista do que ocorreu com as sementes de colza canadense, a comissão decidiu acelerar os trabalhos e apresentar as propostas antes do fim do ano. A União Européia já restringe a 1% o conteúdo máximo acidental de transgênicos nos alimentos industrializados. O acontecido com as sementes de colza canadense leva a crer que esse limite, se respeitado, trará grandes prejuízos.
Jornal do Brasil, Quinta-feira, 1º de junho de 2000
 

BIOTECNOLOGIA

 
Vegetal recebe genes da soja que bloqueiam digestão da broca, principal praga da cultura em São Paulo USP desenvolve cana resistente a insetos DA ENVIADA ESPECIAL A CAXAMBU Cientistas brasileiros conseguiram criar uma variedade de cana-de-açúcar resistente a insetos transferindo-lhe genes de outra espécie vegetal (soja), em lugar de genes da bactéria Bacillus thuringiensis, a tecnologia mais comum (e polêmica), conhecida como Bt. O trabalho foi apresentado na 29ª reunião anual da SBBq (Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular), encerrada ontem em Caxambu (MG). Ainda se encontra em testes, confinados a casas de vegetação (estufas). Márcio Castro da Silva-Filho, da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP), obteve plantas resistentes à broca da cana, principal praga dessa cultura no Estado de São Paulo. Ele utilizou genes de soja que contêm a "receita" de proteínas que impedem a ação de proteínas digestivas dos insetos. O pesquisador explica que, nos insetos herbívoros, quando o alimento chega ao intestino, ocorre muita secreção de substâncias digestivas (enzimas). Elas quebram a matéria vegetal ingerida em pedaços menores, de modo que os produtos dessa quebra (nutrientes como aminoácidos e carboidratos) possam ser utilizados pelo organismo do inseto. Essas proteínas da soja, de um grupo com o nome complicado de inibidores de proteinase, têm a propriedade de se ligar às enzimas digestivas do inseto. Grudadas nas enzimas, impedem o trabalho de quebra (no jargão bioquímico, atividade proteolítica). "O inseto desenvolve sintomas de deficiência protéica e por isso essas proteínas são agentes antinutricionais", disse Silva-Filho. A introdução das proteínas "copiadas" da soja na dieta da broca que se alimenta da cana transgênica causa um aumento da taxa de mortalidade em cerca de 40%. Com isso, menos gerações de insetos serão produzidas. "Há uma tendência em evitar a utilização de proteínas que causem um efeito muito drástico sobre a população de insetos, pois, se houver uma pressão de seleção muito intensa, existe o risco do surgimento de insetos resistentes", afirmou o pesquisador. Isso significa que, em vez de usar proteínas inseticidas, procura-se hoje usar aquelas que interfiram no desenvolvimento do inseto. A idéia é manter uma população incapaz de causar danos econômicos à cultura da cana. Além do surgimento de insetos resistentes, tecnologias como a do Bt suscitam debate também quanto a possíveis danos a populações de insetos que não são pragas agrícolas. Silva-Filho afirma que um dos principais problemas na utilização de genes de outras espécies vegetais na cana é a questão das patentes. Esses genes, para que funcionem nas células da planta transformada, precisam ser postos sob o controle de trechos de DNA (por isso batizados de promotores) patenteados por empresas multinacionais. Por causa dessa limitação, o pesquisador da Esalq busca atualmente entre os genes da própria cana-de-açúcar regiões promotoras que possam ser utilizadas para ativar esses genes. (ISABEL GERHARDT)
Folha de São Paulo, quarta-feira, 31 de maio de 2000
 

Monsanto admite problemas com soja modificada

 
As sementes Roundup Ready, produzidas pela empresa, têm fragmentos de genes não planejados LONDRES - A Monsanto, empresa pioneira na produção de vegetais transgênicos, revelou ontem que seu produto mais disseminado nessa área, a semente de soja Roundup Ready, contém dois fragmentos de genes imprevistos. Eles foram achados em sementes da soja cultivada comercialmente nos Estados Unidos por quatro anos e usada na Grã-Bretanha como componente de alimentos processados. A Monsanto alertou o Departamento do Meio Ambiente britânico quanto aos novos estudos sobre a Roundup Ready em 19 de maio, dois dias após ministros revelaram que centenas de hectares de colza (uma espécie de couve) foram inadvertidamente cultivados com sementes convencionais contaminadas geneticamente. Suspensão - No Rio, deputados federais e o membro do Parlamento Europeu Wolfgang Kreissl-Döfer assinaram ontem um manifesto pedindo a suspensão de importação, plantio e comércio de alimentos transgênicos no Brasil. Eles acertaram ainda a criação de uma rede interparlamentar para tratar do assunto. O compromisso, assinado durante o seminário Alimentos Transgênicos - Aliança Internacional pela Moratória, defende ainda a rotulagem dos alimentos alterados geneticamente e estudos de avaliação dos riscos ambientais e à saúde. Assinaram o documento os deputados federais Fernando Gabeira (PV-RJ), Pompeo de Mattos (PDT-RS) e Saulo Pedrosa (PSDB-BA). (Clarissa Thomé e The Guardian) Atualização via Internet
O Estado de São Paulo. Quinta-feira, 1 de junho de 2000
 

 

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