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Matéria prima: Descompasso na produção de pinus pode afetar setor moveleiro


 

Um estudo conduzido pela Forest2Market do Brasil, companhia global especializada em dados sobre o mercado florestal, aponta para um desequilíbrio entre a produção de pinus e a demanda por toras da matéria-prima no País. Com a economia demonstrando sinais de recuperação, as indústrias de madeira sólida, painéis, e de papel e celulose intensificam a procura pela matéria-prima, mas os maciços florestais não dão sinais de que acompanharão o ritmo do consumo. A pesquisa detectou uma tendência cada vez mais clara de alta demanda e queda na produção de toras de pinus, o que pode desestabilizar a balança entre oferta e procura nos próximos anos e consequentemente encarecer a matéria-prima. Seria um componente a mais a se somar aos já elevados custos de produção do setor moveleiro, cuja produção utiliza sobretudo aglomerados e painéis de madeira proveniente da silvicultura. De acordo com a Forest2Market, a produção de pinus se manteve praticamente estável nos últimos quatro anos, ao passo que a demanda cresceu cerca de 15,4%. Com efeito, observou-se também um aumento nos preços de toras de pinus na classe de diâmetro mais procurada no mercado (18 a 25 cm), que aumentaram quase 10% nos últimos quatro trimestres. Os preços do diâmetro de 25 a 35 cm também cresceram 11,4% no mesmo período. Esse aumento na demanda, de acordo com o estudo, ocorre após a queda nas exportações de produtos à base de madeira de pinus no Brasil em meados de 2011 e da crise que abalou o país entre 2015 e 2016. Com o reaquecimento econômico, a procura por esses produtos aumentou graças à modesta recuperação interna e também à ampliação da exportação. O setor moveleiro, embora inserido num mercado interno de lenta recuperação, vem registrando altas taxas de exportação de móveis em 2018, o que equivale a aumento da demanda por matéria-prima. Além disso, grandes empresas têm anunciado expansão industrial para os próximos anos, a exemplo da Berneck, fabricante de painéis, que irá iniciar a construção de uma serraria e fábrica de MDF em Lages, fator que também tende a elevar o consumo de madeira. Já o Boletim Cenários Ibá, produzido pela Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), indicou crescimento de 29,2% nas exportações dos três produtos do setor de base florestal, no acumulado de janeiro a agosto de 2018. Celulose demonstrou alta de 37,8%, enquanto papel avançou 4,3% e painel de madeira 7,3%, o que resultou em R$ 7,1 bilhões comercializados com outros países neste período. Enquanto isso, o volume de área plantada de pinus tem permanecido estável – ano passado teve leve queda de 1,1%. Efeitos da produção de pinus no setor moveleiro: o diretor da Forest2Market do Brasil, Marcelo Schmid, conta que o levantamento foi realizado a pedido de um empresário estrangeiro que estava interessado em descobrir novas áreas para a produção de pinus no sul do Brasil, onde se concentram as maiores culturas do País. Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul ocupam, respectivamente, o primeiro, segundo e terceiros lugares e juntas somam 88% da produção da matéria-prima em todo território nacional, segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). “Descobrimos com o estudo que não há possibilidades de expandir o cultivo de pinus no Sul do Brasil. Observamos o aumento de produção industrial, mas poucas pessoas estão replantando, o que irá resultar em uma lacuna no mercado madeireiro e irá afetar os outros elos da cadeia, como os painéis e os móveis. Embora a indústria moveleira utilize muito o eucalipto, emprega também muito pinus”, diz Schmid. De acordo com o diretor, a região sul do País não possui áreas disponíveis em grande extensão, o que faz com que o preço de terra seja extremamente elevado em certos locais, o que inviabiliza projetos florestais. “Anos atrás, com medo do ‘apagão florestal’, muitos trocaram a agricultura pela silvicultura, mas o que vemos agora é o movimento inverso: há uma erradicação de pinus e um retorno à pecuária e agricultura. Tudo isso está reduzindo a oferta”, conta. Já o vice-presidente de pinus da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor) e empresário do ramo madeireiro, Daniel Chies, afirma que o setor moveleiro, com exceção das fabricantes de móveis de madeira maciça, está mais ligado não à demanda da tora de pinus, mas à madeira para processamento, que é mais barata e fácil de encontrar no mercado. Além disso, grandes fabricantes de painéis, como a Duratex e Eucatex, trabalham sobretudo com madeira de eucalipto. “Não vejo como o setor moveleiro pode pressionar muito a demanda por produção de pinus no curto prazo. A construção civil, que impulsiona a fabricação de móveis, ainda não reagiu no mercado interno. As grandes empresas moveleiras também não tinham a política de trabalhar com o mercado externo, sempre focaram no mercado interno, mas isso está mudando. Em todo caso, a madeira de processo para painéis é mais difícil de faltar”, diz. Para Chies, não há risco de um “apagão florestal”, ou seja, falta de pinus no mercado, menos ainda uma escassez de abastecimento para a indústria moveleira. O ponto delicado é outro: “O que acontece na ponta não é apagão florestal, mas apagão industrial. As empresas não conseguem comprar toda a matéria-prima que gostariam, ficando incapaz de usar toda a capacidade de produção. A demanda fica competitiva, o que eleva os preços e diminui as margens das companhias”, comenta.

Fonte: Portal Emobile em 12-08-2018

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