O vigoroso sistema hidrológico da Amazônia há tempos tem
instigado os cientistas. Para a produção da elevada quantidade
de nuvens que existe no céu da maior floresta tropical do mundo é
preciso que exista na atmosfera um grande número de partículas
de aerossol, conhecidas como núcleo de condensação de
nuvens. O difícil era calcular a quantidade de aerossol necessário.
“Quando se media a concentração das partículas, invariavelmente faltavam compostos químicos orgânicos que pudessem fechar o balanço. O número dos núcleos de condensação de nuvens era sempre muito baixo”, disse Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, à Agência FAPESP.
O pesquisador usa o passado como tempo verbal pois um artigo publicado nesta sexta (20/2), pela revista Science, mostra que a ciência conseguiu entender por completo ! o balanço hídrico.
Os responsáveis pela descoberta, após três anos de investigações, foram pesquisadores ligados ao Instituto do Milênio do LBA (sigla em inglês de Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia), em projeto parcialmente financiado pela FAPESP.
“O composto 2-methylthreitol (C5H7O4) auxilia no fechamento
dessa importante questão e aponta para uma ligação efetiva
entre as emissões biogênicas da floresta e o clima sobre ela”,
explica Artaxo, que também coordena o instituto e é um dos autores
do artigo na Science, ao lado de outros nove cientistas europeus e um australiano.
“Esse composto orgânico é produto de oxidação
fotoquímica do isopreno. Até o momento, se desconhecia a possibilidade
de esse composto químico atuar como precursor de partículas”,
disse.
Como, para formar chuva, além do aerossol é
necessário também a presença de vapor de água
no ambiente, a descoberta do Instituto de Milênio tem uma relação
ainda mais preocupa! nte para a conservação da Amazônia.
Os pesquisadores já sabiam que a troca da floresta por pastagens diminui
a evapotranspiração (combinação da evaporação
da água do solo e das superfícies líquidas com a transpiração
dos vegetais) dentro do ecossistema.
“Mas, agora, podemos dizer que também o desmatamento, por causa dessa nova ligação que foi descoberta, diminui a quantidade de núcleos de condensação de nuvens”, explicou Artaxo.
Apesar de ser uma pesquisa da área básica, que pretende investigar como é o funcionamento amazônico, o estudo do Instituto do Milênio mostra também uma perspectiva importante para a preservação ambiental.
“O enfraquecimento do ecossistema, provocado pela derrubada da floresta, poderá diminuir bastante o regime de chuvas na região e trazer, inclusive, períodos de seca”, acredita o pesquisador da USP. Anualmente, são derrubados 25 mil quilômetros quadrados de mata amazônica. “A única saída é reduzir esse ritmo”, acredita Artaxo.
Fonte:(Agê! cia Fapesp em 20/02/2004
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