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EXPANSÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA NO MUNDO E POTENCIAL DE CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO ORGÂNICA NO ESTADO DE SANTA CATARINA

A agricultura orgânica está constituindo, cada vez mais, uma parte importante do setor agrícola. Suas vantagens ambientais, econômicas e sociais têm atraído a atenção de diferentes organismos governamentais e não-governamentais.

Segundo a FAO/OMS (1999), a agricultura orgânica é um sistema holístico de gestão da produção que fomenta e melhora a qualidade do agroecossistema (em particular, a biodiversidade), dos ciclos biológicos e da atividade biológica do solo. Os sistemas de produção orgânica se baseiam em normas de produção específicas e precisas cuja finalidade é lograr agroecossistemas, que sejam sustentáveis do ponto de vista social, ecológico, técnico e econômico.

De acordo com SÖL[1] – Survey (2001) -, cerca de 15,8 milhões de hectares são manejados organicamente no mundo. Atualmente, a maior parte dessa área está localizada na Austrália (7,6 milhões de hectares), Argentina (3 milhões de hectares) e Itália (@ 1 milhão de hectares).


Na Oceania, encontra-se aproximadamente 50% da área orgânica do mundo, seguida pela Europa (23,6%) e a América Latina (20%) (Gráfico 1).

As porcentagens, entretanto são maiores na União Européia (EU), e, particularmente, nos países em ascensão (Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia, Romênia, Eslovênia, Eslováquia, República Tcheca, Hungria e Chipre), nos países pertencentes à Comissão Econômica de Mercado Livre Europeu - Efta – (Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça), bem como a Bósnia-Herzegowina, a Croácia e a Iugoslávia. Este conjunto europeu de países  possui mais de 3,7 milhões de hectares sob manejo orgânico, o que corresponde a aproximadamente 2% do total de terra utilizado para agricultura. Em  todos eles a agricultura orgânica está em expansão SÖL (Survey, 2001), a qual está associada, em grande parte, ao aumento de custos da agricultura convencional, à degradação do meio ambiente e à crescente exigência dos consumidores por produtos isentos de agrotóxicos.


O crescimento da área orgânica certificada nos anos de 1993 a 1998, em diversos países da Europa, pode ser observado no gráfico 2.

Na América do Norte, mais de 1 milhão de hectares são mantidos organicamente. Somente os Estados Unidos possuem uma área de 900.000 hectares, seguidos pelo Canadá (188.195 hectares) e México (85.676 hectares) (Tabela 1). Segundo Harding (2000), em 1995 os Estados Unidos possuíam uma área de 370.000 hectares, a qual cresceu 2,43 vezes até o ano de 2000.

Em muitos países desenvolvidos, a agricultura orgânica foi estabelecida devido às novas tendências na preferência dos consumidores, caracterizadas principalmente pela preocupação com a preservação ambiental,   a saúde e   a qualidade dos alimentos.

Os países da América Latina com maior percentagem de áreas orgânicas são a Argentina, o Brasil e Costa Rica (Tabela 1).

Na América do Sul, a Argentina é o país com a maior área certificada; a agricultura orgânica cresceu de 5.500 hectares em 1992, para 3 milhões de hectares em 2000, o que representa um crescimento de 550 vezes, sendo a maior parte destinada a pastagens (Gráfico.3).

TABELA 1 – NÚMERO DE FAZENDAS ORGÂNICAS, ÁREA SOB MANEJO DE PRODUÇÃO ORGÂNICA E PERCENTUAL  DA ÁREA AGRÍCOLA DOS PRINCIPAIS PAÍSES PRODUTORES

PRINCIPAIS PAÍSES

PRODUTORES

NÚMERO DE FAZENDAS ORGÂNICAS

ÁREA DE PRODUÇÃO ORGÂNICA                        (ha)

% DA ÁREA AGRÍCOLA DO PAÍS

Oceania

Austrália*

1.657

7.654.924

1,62

Nova Zelândia*

700

11.500

0,07

Europa

Áustria*

19.741

287.900

8,43

Alemanha**

10.400

452.279

2.64

Bélgica**

550

18.572

1,34

Dinamarca**

3.099

146.685

5.46

Finlândia*

5.225

147.423

6,76

França**

8.149

316.000

1,12

Espanha**

11.773

352.164

1,37

Holanda*

1.391

27.820

1,39

Hungria**

451

34.500

0,56

Irlanda**

1.058

32.478

0,75

Itália**

49.018

958.687

6,46

Portugal**

750

47.974

1,26

Reino Unido**

3.000

380.000

2,40

República Tcheca**

473

110.756

3,15

Suécia**

3.330

174.000

5,60

Suíça**

5.070

84.271

7,87

América do Norte

Canadá*

2.321

188.195

0,25

Estados Unidos**

6.600

900.000

0,22

México*

27.282

85.676

0,08

América Latina

Argentina*

1.000

3.000.000

1,77

Brasil**

4.500 1

100.000

0,04

Chile*

200

2.700

0,02

Costa Rica*

3.676

9.607

0,4

Paraguai*

-

19.218

0,08

Peru**

2.072

12.000

0,04

Uruguai**

150

1.300

0,01

fontE: WILLLER; YUSSEFI (2001).

Dados referentes a : * 2000 ** 1999   ***1998.

1 Darolt (2000).

 
Caixa de texto: fontE: WILLER; YUSSEFI (2001).


GRÁFICO 3 – DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA ORGÂNICA NA ARGENTINA - 1992-2000

Atualmente, o Brasil possui 100.000 hectares sob manejo orgânico; somente o Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento (IBD) certifica 60.000 hectares, pertencentes a aproximadamente 2.000 produtores. Estima-se que outras 2.500 unidades de produção tenham sido certificadas por entidades como a Cooperativa Colméia do Rio Grande do Sul, Associação de Agricultura Orgânica (AAO); a Associação de Agricultura Natural de Campinas (ANC) e a Fundação Mokiti Okada  (MOA) do estado de São Paulo; a Associação de Agricultores Biológicos (Abio) do Rio de Janeiro; a Assesoar e a Associação de Agricultura Orgânica (Aopa) no Paraná, o que perfaz um montante de aproximadamente 4.500 produtores certificados no Brasil na safra 99/00, ocupando uma área aproximada de 40.000 hectares (Darolt, 2000).

O Brasil ocupa atualmente o 34º lugar no ranking dos países exportadores de produtos orgânicos. Estimativas indicam que no País, nos últimos três anos, o crescimento do mercado orgânico se encontra entre 25% e 50% ao ano.

Em muitos países esse mercado registra um crescimento superior a 20% ao ano nos últimos nove anos, sendo uma grande parte do mercado constituída por frutas e vegetais (Phillips et al., 2001),  movimentando em torno de 20 bilhões de dólares no ano de 2000.

O mercado internacional, segundo o estudo realizado pelo International Trade Centre - ITC (1999) -, demostrou que o comércio de alimentos orgânicos se tem convertido em um dos melhores negócios no mercado mundial de alimentos. A comercialização desses produtos apresenta uma taxa de crescimento raramente encontrada no mercado de alimentos.

De acordo com o ITC (1999), há uma oportunidade crescente de mercado para países em desenvolvimento que oferecem produtos orgânicos que não são produzidos na Europa e na América do Norte, como, por exemplo: café, chá, cacau, especiarias, vegetais, frutas tropicais e cítricas.

POTENCIAL DE EXPANSÃO DA ÁREA AGRÍCOLA DESTINADA À PRODUÇÃO ORGÂNICA NO ESTADO DE SANTA CATARINA

O estado de Santa Catarina apresenta um grande percentual de agricultores familiares. Embora se trate, muitas vezes, de famílias que praticam agricultura orgânica, e nem sempre comercializam os produtos como tais. A agricultura familiar, devido aos seus saberes e aos seus conhecimentos no que se refere a grande diversificação da produção, processamento e exploração equilibrada dos recursos naturais, apresenta grandes potencialidades para produção desse tipo de alimentos. Nestes casos, esse tipo de agricultura exerce um importante papel na diferenciação dos produtos da agricultura familiar e na agregação de valor.

No estado, a produção orgânica foi introduzida e divulgada, primeiramente, por organizações não-governamentais; mais recentemente, por órgãos governamentais.

A Associação dos Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra Geral  (Agreco), fundada em 1996 no município de Santa Rosa do Sul, congrega 11 municípios localizados nas encostas da Serra Geral, entre Alfredo Wagner e Praia Grande. A associação tem hoje 27 agroindústrias filiadas,com 200 famílias de agricultores. É uma grande fornecedora produtos orgânicos, tais como: frutas, legumes, mel, açúcar mascavo, gengibre, conservas, cachaça e geléia. Os produtos são comercializados em grandes redes de supermercados, como Carrefour, Záffari, Pão de Açúcar, Angeloni e pequenos  mercados.

 Em abril de 1999, foi lançada no estado a Rede Ecovida de Agroecologia, que congrega diversas organizações e profissionais ligados à agroecologia. Atua em 31 municípios, com 60 grupos e associações, e tem um envolvimento direto de 600 famílias (Rede Ecovida, 2000).

A Rede Ecovida possui um sistema de certificação participativa, ou seja, a responsabilidade de garantir qualidade do produto não é somente do técnico, mas também do agricultor e do consumidor (Rede Ecovida, 2000). Outra entidade catarinense que está certificando é a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Rural Sustentável - Fundagro.

A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - Epagri -  possui linhas de trabalho na área de produção agroecológica, com diferentes subprojetos de pesquisa e cursos profissionalizantes. Segundo dados fornecidos pela Epagri (2001), estima-se que existam cerca de 40 associações de agricultores orgânicos, perfazendo um total de 1.000 famílias rurais, além de inúmeros produtores e empreendimentos independentes em várias regiões do estado.

O Instituto de Planejamento e Economia Agrícola de Santa Catarina - Instituto Cepa/SC -, juntamente com outras instituições, está desenvolvendo uma pesquisa de identificação dos produtores e propriedades de Santa Catarina que produzem e comercializam produtos orgânicos e plantas medicinais.

Este trabalho tem como finalidade caracterizar o sistema de agricultura orgânica no estado, bem como contribuir para uma maior inserção de produtores neste sistema, fornecer dados que possibilitem estabelecer políticas públicas para o setor, difundir tecnologias alternativas já adotadas por esses agricultores, transmitir informações sobre a qualidade dos alimentos e verificar as perspectivas do estado para exportação.

O estado possui grande potencial para atender a esse crescente mercado de produtos orgânicos, principalmente por se constituir de pequenas propriedades rurais e possuir uma grande diversidade de condições agroecológicas favoráveis, vias de transporte, portos e proximidade dos grande centros urbanos.

Entretanto, para que o poder público possa implementar medidas efetivas de apoio à produção orgânica no estado, é preciso, como primeiro passo, apoiar o desenvolvimento da cadeia produtiva, buscando melhorar o conhecimento referente ao sistema de produção e às suas potencialidades no mercado nacional e internacional.

Eng. Agrônoma Ana Carla Oltramari (Consultora do Instituo de Planejamento e Economia Agrícola de Santa Catarina – Instituto Cepa/SC)

fonte: Agroindicador - indicadores para a agricultura catarinense, Florianópolis: Instituto Cepa/SC, dez/2001.

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