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Sequestro de carbono chega à agricultura

Com técnicas como o plantio direto, agricultores podem retirar gás carbônico da atmosfera e até lucrar com a venda de crédito de carbono

 

O manejo correto do solo na agricultura pode ajudar o setor de agronegócio a sequestrar carbono da atmosfera e reverter a imagem de que a atividade traz danos ao ambiente e aumenta o aquecimento global. Práticas agrícolas como o plantio direto, a rotação de culturas e a agricultura de precisão podem em breve credenciar o setor a vender créditos de carbono no mercado internacional.

 

"Os atuais 26 milhões de hectares de culturas que utilizam o plantio direto em todo o País são responsáveis pelo sequestro de pelo menos 13 milhões de toneladas de CO2 ao ano", afirma Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq-USP e pesquisador das áreas de bioenergia e mudanças climáticas. Ele explica que o sistema de plantio direto, onde palha e resíduos vegetais são deixados no solo, ajuda a reter grande quantidade de gases estufa, como o carbono e o metano, na terra.

 

"Existe três vezes mais CO2 fixado no solo do que na atmosfera. Se o solo não for manejado de forma adequada, esse carbono é liberado e contribui para o aquecimento global" explica Cerri. As pesquisas nesse campo e mais de 40 artigos científicos publicados renderam ao professor, de 35 anos, a premiação na categoria Juventude do Prêmio Fundação Bunge (antigo Moinho Santista), que será entregue hoje, em São Paulo.

 

A agricultura responde hoje por cerca de 30% das emissões de poluentes do Brasil. "A agricultura tem sido apontada como uma vilã do meio ambiente, mas o fato é que existe tecnologia para minimizar o impacto ambiental das culturas. Basta que isso seja aplicado em maior extensão em todo o País", diz Cerri.

 

No entanto, mesmo com técnicas sofisticadas de manejo do solo, a conversão da floresta em culturas como soja não traz benefícios ambientais. Isso porque, enquanto o plantio direto permite a fixação de 0,5 tonelada de CO2/ano, a floresta tropical intacta tem o poder de fixar 60 toneladas de CO2/ano. "Mesmo com plantio direto, a conversão de áreas de floresta para agricultura é danosa . Por isso é preciso fazer melhor uso das áreas já degradadas, como pastagens", diz.

 

No campo dos biocombustíveis, a possibilidade de sequestro de CO2 também é alta, principalmente com a cultura de cana-de-açúcar. "A suspensão das queimadas nos canaviais torna a cultura ainda mais interessante em termos de sustentabilidade", explica Cerri.

 

O Grupo Balbo, de Sertãozinho (SP), que produz açúcar e álcool, foi o pioneiro no Estado a banir as queimadas dos canaviais, ainda na década de 1980. Na época, nem havia máquinas para colher a cana crua. O plantio direto, aliado ao controle biológico de pragas, transformou o Grupo Balbo em uma potência do mercado de orgânicos. Com a marca Native, o grupo é hoje o maior produtor mundial de açúcar orgânico e exporta cerca de 50 mil toneladas por ano.

 

A experiência da empresa chamou a atenção de grandes compradores, como a rede americana de varejo Whole Foods, especializado em produtos naturais e orgânicos. "Eles viram nosso inventário de emissões de CO2 e se surpreenderam com o fato de que nossas usinas emitem 35% menos carbono que uma indústria convencional", diz Leontino Balbo Júnior, diretor da Native.

 

Créditos de carbono

 

A comprovação da redução de carbono pelo uso correto do solo pode permitir a negociação de créditos de carbono. Hoje os projetos de agricultura não são aceitos pelas Nações Unidas, mas há títulos sendo vendidos nas bolsas paralelas de carbono, como a Chicago Climate Exchange (CCX), e o Fundo Protótipo de Carbono, do Banco Mundial.

 

No Paraná, agricultores se uniram em uma cooperativa, a Coopercarbono, e realizaram a primeira venda de créditos referentes a área de matas ciliares.


:Fonte: Blog de Andrea Vialli - Estadão em 16/09/2009

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